Cabral cumpre prisão domiciliar em imóvel de empresa investigada e bloqueado pela Justiça

O imóvel localizado em Copacabana, na Zona Sul do Rio, é a residência do ex-governador há um mês, desde que ele saiu da cadeia. A empresa Araras Empreendimentos, dona do imóvel, está envolvida com a organização criminosa que o próprio Cabral é suspeito de chefiar.

O ex-governador Sérgio Cabral está cumprindo prisão domiciliar em um imóvel que pertence a empresa Araras Empreendimentos, que é acusada de ter levado dinheiro para o próprio preso.

O apartamento fica no quinto andar de um prédio de Copacabana, de frente para a praia da Zona Sul carioca. O imóvel onde o ex-governador mora, desde que saiu da cadeia, há um mês, está bloqueado pela Justiça.

A empresa Araras Empreendimentos pertence a Susana Neves, que era mulher de Sérgio Cabral na época da compra. Susana chegou a ser condenada por lavagem de dinheiro para o ex-marido.

Susana recorreu da decisão e foi absolvida. Contudo, o Ministério Público Federal também recorreu desta decisão e pediu nova condenação da ex-mulher de Cabral.

Empresa de fachada, diz Justiça

 

Na investigação, a Receita Federal identificou que a empresa de Susana não teve sequer um funcionário durante uma década. Segundo a Justiça, a Araras Empreendimentos era uma empresa de fachada.

Cabral cumpre prisão domiciliar em Copacabana — Foto: Reprodução TV Globo

A compra do imóvel também é envolta em alguns mistérios. Segundo as investigações, a Araras comprou o apartamento de Copacabana da empresa Carioca Engenharia, em abril de 1998.

O que chama atenção é que a Carioca Engenharia ficou menos de dois meses com o imóvel. Apenas 42 dias depois de comprar o apartamento por R$ 190 mil, a Carioca vendeu para a empresa da então mulher de Cabral por R$ 173,4 mil.

Entre a compra e a venda, a Carioca Engenharia acumulou um prejuízo de R$ 16,6 mil. O imóvel atualmente custa cerca de R$ 1,5 milhão.

Na época da negociação, Sérgio Cabral era deputado estadual, reeleito presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Para o advogado criminalista Breno Melargno, a transação com prejuízo não é comum para uma empresa que trabalha nesse ramo. Contudo, o especialista lembra que isso não é crime.

“Não, não é uma transação comum. Sem sobra de dúvida é uma transação um tanto quanto suspeita. Agora isso por si só não configura qualquer ilícito, teria que haver algum tipo de investigação sobre essa transação incomum e suspeita”, explicou o advogado.

 

Bloqueado pela Justiça

 

Desde 2017, o apartamento com vista para o mar está declarado indisponível para qualquer transação. Na época, a Sétima Vara Federal Criminal de Justiça determinou que o imóvel não poderia ser vendido, como garantia de eventuais indenizações por danos aos cofres públicos.

A decisão veio a reboque da investigação contra a dona da empresa, a ex-mulher de Cabral.

Cabral cumpre prisão domiciliar em Copacabana — Foto: Reprodução TV Globo

Quase três décadas depois do negócio, a empresa que vendeu o apartamento também acabou entrando no noticiário policial. Além da Araras, a compradora do imóvel também fazia parte do esquema do ex-governador.

A Carioca Engenharia admite ter pago pelo menos R$ 30 milhões em propina a Sérgio Cabral. Em 2021, a empreiteira assinou um acordo de leniência, se comprometendo a devolver aos cofres públicos R$ 132 milhões.

O que dizem os envolvidos

 

A defesa de Sérgio Cabral não quis se manifestar. A reportagem procurou os advogados de Susana Neves, mas não teve retorno. A Carioca Engenharia não respondeu às perguntas feitas pela TV Globo.

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