Pandemia está causando um impacto alarmante sobre as crianças, diz pediatra

Na pandemia, atendimentos de emergência a crianças e adolescentes relacionados à saúde mental aumentaram entre 24 e 31% nos Estados Unidos

Quase um ano após o início da pandemia, o que começou como uma emergência de saúde pública está se transformando em uma crise de saúde mental entre as crianças e adolescentes americanos, que lutam contra o isolamento social, o luto e a mudança para o aprendizado à distância. Está se tornando cada vez mais claro que essa crise perdurará muito além da pandemia.

É por isso que, recentemente, a Academia Americana de Pediatria (APC) e a Associação de Hospitais Infantis (CHA) lançaram uma campanha de conscientização para destacar a crise crescente e compartilhar ideias sobre o que o governo e as comunidades podem fazer para garantir que as famílias tenham acesso a serviços de saúde mental.

Os problemas relacionados a saúde mental e comportamental em crianças e adolescentes estavam aumentando antes mesmo da pandemia. Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, o suicídio atingiu um recorde – tornando-se a segunda principal causa de morte entre pessoas de 10 a 24 anos em 2017. Desde o início da pandemia, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos relatam que o número de atendimentos de emergência cresceu acentuadamente. De abril a outubro de 2020, essas visitas aumentaram 31% para crianças de 12 a 17 anos, e 24% para crianças de 5 a 11 anos em comparação com o mesmo período de 2019.

Embora ainda estejamos aprendendo sobre o impacto da pandemia na saúde mental, vimos seus efeitos nas crianças e famílias se intensificando com o tempo. Muitos pediatras me disseram, no mês passado, que seus consultórios parecem mais clínicas de saúde mental para as crianças e seus pais.

Apesar de a dor ser generalizada, ela tem sido desigual. Algumas crianças foram muito mais afetadas muito pela duração da pandemia, distância dos amigos e familiares, além de terem que lidar também com o estresse dos pais, dificuldades econômicas e perda de entes queridos. Eu, pessoalmente, vi alunos com nota A, que eram adolescentes otimistas, bem ajustados e felizes passando por quadros graves de depressão e ansiedade durante a pandemia. Além disso, estamos reconhecendo cada vez mais os impactos do racismo sistêmico na saúde mental das crianças, em especial, as negras.

Precisamos prestar atenção nesta crise. O sistema de saúde mental americano é frágil em todo o país, e em algumas comunidades, ele simplesmente não existe. Mesmo antes da Covid, muitas famílias não tinham como acessar os serviços de saúde mental quando mais precisam devido à disponibilidade limitada, longas listas de espera e escassez de especialistas em saúde mental infantil.

Embora não seja uma solução em si, o retorno das crianças às aulas presenciais é uma forma essencial de começarmos a enfrentar essa crise. A orientação mais recente do CDC reforça o que os pediatras vêm dizendo há muito tempo: se as escolas estão seguindo boas precauções de saúde pública, a disseminação do Covid-19 é muito baixa. Também precisamos investir significativamente na preparação para um maior apoio à saúde mental nas escolas para que, quando os alunos retornem, eles tenham acesso à ajuda de que precisam.

O que sabemos sobre o cérebro em desenvolvimento sugere que, para muitas crianças, os efeitos traumáticos do ano passado podem ter efeitos duradouros. A boa notícia é que existem maneiras de amortecer esse impacto, incluindo priorizar o acesso a tratamento de saúde mental, moradia segura, alimentos nutritivos e relacionamentos saudáveis com adultos atenciosos. E qualquer abordagem que fizermos deve incluir atenção aos pais e responsáveis, porque sabemos que as crianças se saem melhor quando seus pais são física e mentalmente saudáveis.

Devemos estar dispostos a dar passos grandes e ousados pelo bem de nossos filhos, que carregaram com serenidade e bravura ao longo do último ano um fardo muitas vezes invisível. Agora é a hora de os gestores públicos darem um passo no sentido de investir em uma abordagem ampla e abrangente para a saúde mental, que trate da prevenção e do tratamento precoce, bem como tratamentos que deem respostas a crises.

A AAP e o CHA estão pedindo ao Congresso e à administração Biden que priorizem a saúde mental, emocional e comportamental das crianças. Isso incluiria mais fundos para programas que integram serviços de saúde mental em consultórios médicos e o crescimento da força de trabalho em saúde mental pediátrica.

Essa abordagem holística deve levar em conta as necessidades diferentes de bebês, crianças pequenas, adolescentes, adultos jovens e suas famílias. O cérebro é uma parte tão vital da saúde das crianças quanto o resto do corpo. Precisamos agir para que, quando sairmos da pandemia, todos os nossos filhos estejam saudáveis e prosperando.

* Lee Savio Beers é presidente da Academia Americana de Pediatria

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Fonte cnnbrasil
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