Demissões em massa em big techs apontam para a maior crise do setor? Analistas comentam

“Uma decisão difícil para nos preparar para o futuro”. A carta assinada por Sundar Pichai, CEO da Google e da Alphabet, anuncia a demissão em massa de 12 mil funcionários. Lamentando a escolha de cortar força de trabalho, o CEO, na mesma carta, revela o motivo entusiasmado. “Estou confiante na enorme oportunidade que temos diante de nós, graças à força de nossa missão, ao valor de nossos produtos e serviços e aos nossos primeiros investimentos em IA”.

Assim, a Alphabet faz soma aos gigantes da tecnologia que estão ‘cortando cabeças’ desde 2022. Analistas falam em possibilidade de crise no setor, que chegam a milhares de cortes:

  • Alphabet, controladora do Google, anunciou nesta sexta-feira (20) que vai cortar cerca de 12 mil funcionários, ou 6% de sua força de trabalho, em meio ao foco cada vez maior do setor de tecnologia em sistemas de inteligência artificial (IA);
  • A Microsoft anunciou corte de 10 mil funcionários até o fim do terceiro trimestre;
  • A Amazon confirmou que demissões vão chegar chegam a 18 mil funcionários da rede;
  • WeWork anunciou nesta quinta-feira (19) que planeja demitir cerca de 300 funcionários em vários países diante de pressões que incluem inflação alta, que tem reduzido a demanda por escritórios compartilhados.
  • Spotify Technology anunciou nesta segunda-feira (23) planos para demitir 6% de sua força de trabalho, ou cerca de 600 funcionários
  • Em 2022, a Meta, detentora do Facebook, Instagram e WhatsApp, anunciou a demissão de 11 mil funcionários; com a aquisição de Elon Musk, o Twitter foi outra rede afetada, com corte de 50% dos funcionários, além dos pedidos de demissão voluntária (sem números oficiais, a imprensa estima que o número esteja na casa de 3 mil pessoas).

Quais motivos estão levando as big techs a demitirem tantos funcionários? 

A Meta, de Mark Zuckerberg, teve um aumento no número de funcionários de 48,2 mil em 2020 para 87 mil em 2022.  “A COVID-19 fez as pessoas passaram mais tempo em streamings, plataformas digitais, e-commerce, mídias sociais”, explica Juliano Sanches, doutorando em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp.

“O mercado de big techs perdeu fôlego na medida em que as pessoas deixaram o trabalho remoto e retornaram para os escritórios, o que impactou diretamente na aceleração do fluxo de demissões. O Vale do Silício teve excesso de confiança”, avalia o pesquisador.

Outro motivo, segundo Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, é a escalada de juros, já que as empresas são sensíveis a juros elevados. “Eles reduzem a margem da empresa, fazendo com que seu valor de mercado caia. Mesmo com expectativa de crescimento para um determinado período, com os juros altos chegando, essa expectativa não se concretiza”, explica o assessor de investimentos.

Impactos no Brasil e no mundo

O uso de Inteligência Artificial foi um argumento usado na carta demissão da Alphabet. A tendência teve boom em 2022, quando a Meta lançou o Metaverso, que vem perdendo força no mercado.  “A Meta, ao investir no Metaverso, acabou por reproduzir um modelo que já existia na Internet, com uma nova roupagem, e que está longe de gerar o retorno esperado. Apesar de as pessoas guardarem os carros na garagem e passarem a viver mais tempo em frente à tela do computador, esse cenário desmoronou rapidamente com o fim do lockdown”, diz Sanches.

Para Alves, o modelo pode voltar a dar retornos. “A área de Inteligência Artificial segue sendo um investimento pro futuro sim, pois é uma tendência de longo prazo. IA pode ser um catalisador para gerar mais eficiência em empresas de tecnologia, então a evolução no setor daqui pra frente pode vir mais rapidamente, observando os próximos anos”, defende.

Alves recorda que esse impacto econômico nas techs começou a partir de janeiro de 2022, quando a inflação subiu nos EUA, e o banco central americano teve que aumentar os juros e conter a inflação. Segundo ele, o cenário pode seguir em 2023, tanto para Tecnologia quanto para o Varejo – como acontece com o Brasil. As demissões estão na lista de soluções para amenizar esse ‘baque’ das empresas.

“No Brasil se pode esperar o mesmo. As empresas locais, como Positivo e outras empesas de software, apanharam no momento em que a Selic começou a subir e foi a 13,75%. Enquanto juros e inflação reduzirem a expectativa de crescimento global, essas empresas irão sofrer. Mas num posterior ciclo de queda de juros, essas empresas voltam a crescer”, afirma.

“Na medida em que os erros de planejamento acabam por gerar demissões em massa, o Brasil passa a ser prejudicado direta ou indiretamente, devido às oscilações da economia internacional”, finaliza Sanches.

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Fonte istoedinheiro
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