Será que a sua mania de reclamar está indo longe demais?
Todo mundo reclama, com maior ou menor intensidade. Acontece que muita gente faz desse hábito um verdadeiro vício. E, como toda compulsão, em algum momento acaba fugindo do controle. O pior é que as queixas, em boa parte das vezes, não têm fundamentos que as justifiquem, como uma dor intensa por causa de uma doença ou o enfrentamento de uma perda. Nessas situações as pessoas sofrem, mas tentam se reerguer. Quem se habitua a reclamar sem parar geralmente o faz indiscriminadamente, por motivos banais (o calor, o frio, o trânsito) ou por coisas que poderia modificar –um emprego ruim, uma amizade abusiva– se não gastasse tanta energia com lamúrias.
Nem todos os reclamões, no entanto, se dão conta das próprias atitudes. A ficha acaba caindo perante a reação de terceiros. Exemplos: o par dá um puxão de orelha e ameaça romper a relação se a pessoa não mudar, os colegas de trabalho se afastam, os amigos deixam de responder as mensagens, um mal-estar se desenrola numa rede social, os filhos começam a imitar o comportamento e por aí vai.
A reclamação se torna automática sobre tudo e todos. Em alguns casos, isso ocorre porque a pessoa se colocou no papel de vítima da situação, por ter um sentimento de desvalorização e baixa autoestima, e não consegue mais sair dele. Ou, ainda, tem um alto grau de exigência e perfeccionismo que nada mais a agrada, o que a faz entrar num looping eterno de reclamações. A pessoa acaba sendo vítima dela mesma, o que alimenta sua vitimização e volta a justificar suas reclamações.
Consequências de ser reclamão
As consequências são nefastas. Quem não consegue controlar as emoções acaba desenvolvendo uma visão de mundo distorcida, além de negatividade acentuada, irritabilidade, impulsividade e ansiedade. A preocupação com tudo que há em sua volta é constante, ou seja, a pessoa não relaxa nunca, o que só agrava o problema. Isolamento social, diminuição da produtividade, conflitos no trabalho e/ou na vida pessoal e problemas de saúde agravados com o tempo são outros resultados nocivos.
Em 2016, o filósofo e cientista da computação Steven Parton (EUA) divulgou um estudo sobre como as reclamações impactam nosso organismo e afetam nossa atividade cerebral por conta do hormônio do estresse, o cortisol. Dificuldades de aprendizado e memória, baixa imunidade e densidade óssea, acúmulo de gordura, hipertensão, aumento do colesterol e propensão a problemas cardíacos e depressão são alguns dos efeitos do hábito de reclamar.
Outra má notícia é que a reclamação é “contagiosa”: se você passa horas do seu dia em um ambiente onde as pessoas reclamam muito, a tendência a repetir o mesmo tipo de atitude é enorme, pois o comportamento é compreendido como uma forma de manifestar opiniões e frustrações escondidas no inconsciente.
A mania de reclamação pode ser o sintoma de algo mais sério, como um transtorno de humor –depressão, distimia, bipolaridade e ansiedade, só para citar alguns– ou de outras doenças. Se, mesmo se esforçando muito, você não consegue se livrar da mania de reclamar, vale procurar ajuda de um psicólogo para avaliar o quadro com mais propriedade e profundidade.
Como desligar a “chave” de reclamação da cabeça
Mudar algum hábito sempre é possível com força de vontade, mas para isso é necessário ter consciência dos gatilhos para sua reação automática: as reclamações. Portanto, fique de olho e tente perceber quais são as situações que disparam suas lamentações.
Procure reinterpretar as vivências do dia a dia, dando um significado novo e positivo a elas.
Aceite os alertas de amigos e familiares. Como são as pessoas mais próximas, e que gostariam de continuar a conviver pacificamente com você, acabam sinalizando que está reclamando demais. Não tome esses avisos como implicância.
Evite reagir às situações reclamando de tudo e pense antes de falar. Analise a situação como um todo e veja se você está inserida no problema ou se pode modificá-lo.
Foque na origem do incômodo para entender como ele surge e procure encontrar uma solução. Entenda o que está acontecendo por completo e comente sem reclamar.
Preste mais atenção nos pensamentos ou crenças que desencadeiam a insatisfação e, consequentemente, a reclamação.
Pratique a positividade todos os dias. Os pensamentos positivos são responsáveis por comportamentos assertivos.
Acredite mais em si mesma, melhore sua autoestima e tente sentir-se mais satisfeita com o que tem. O amor próprio bloqueia o hábito de reclamar rotineiramente.
Pratique a gratidão diariamente. Ela é uma ferramenta essencial para mudar efetivamente a chave da reclamação.
Não alimente as reclamações alheias. Mostre, com exemplos, o aspecto negativo de pessoas que adotam esse padrão de comportamento.
FONTES:
Lidiane Silva, psicóloga, do Rio de Janeiro (RJ), Reinaldo Passadori, especialista em Desenvolvimento Humano e CEO da Passadori Educação e Comunicação, de São Paulo (SP), e Silvia Donati, coach pessoal e profissional de São Paulo (SP).