Entregadores trabalham mais de 12h por dia para sustentar família

Sofrendo com desemprego, trabalhadores de aplicativos se expõe a riscos e enfrentam precarização para garantir o sustento

Pedro Luiz, de 18 anos, acorda todos os dias cedo, percorre 15,4 quilômetros levando a bicicleta no ônibus ou pedalando do Jardim Miriam, zona sul, até a Bela Vista, na região central de São Paulo, para trabalhar como entregador de aplicativo.

“Não tem horário certo para começar e terminar o trabalho. Chego de manhã, perto das 10h, e vou embora só à noite, em torno das 21h”, afirma.

Pedro atende os chamados da Rappi e do iFood. Com o dinheiro que ele ganha com a função, ajuda a sustentar a casa onde mora com a mãe e mais dois irmãos e o financiamento da bicicleta que comprou para o serviço.

“No momento não tá tendo oportunidade de trabalho, então é melhor do que ficar desempregado.”

Sem carteira assinada há alguns anos, Pedro pretende estudar para conseguir mudar de profissão, mas diz que ainda não tem nada em mente.

A rotina de Pedro não é um caso isolado, durante a grave crise social desencadeada pela pandemia do novo coronavírus, a taxa de desemprego atingiu quase 14 milhões de brasileiros, segundo dados do IBGE.

Nesse meio tempo, o serviço de entregas por aplicativo deixou de ser uma demanda diferencial para se tornar essencial.

Como tantas outras, essa categoria de trabalhadores enfrenta o risco da exposição ao vírus da covid-19, diariamente, em uma cidade onde as extensões de ciclofaixas são insuficientes.

Com pouca remuneração, muitas vezes não conseguem equipamentos de proteção e, para ganhar o equivalente, realizam uma carga horária acima do que é considerado saudável para fazer valer o serviço.

Trabalhadores de aplicativo durante uma pausa para descanso no metrô Santa Cruz, em São Paulo
SHEILA PINHEIRO/ R7- 22.03.2021

Matheus Henrique Saraiva Rodrigues tem 23 anos. Com uma bike doada por amigos, ele trabalha para a empresa Uber Eats cerca de quatro horas por dia, mas fica online o dia inteiro esperando o celular acioná-lo para a próxima entrega.

“Houve um dia que eu fiquei 24 horas ligado e ele chamou só três vezes. Nos aplicativos por entrega, o valor é meio aleatório, já fiz corrida que pagava R$ 2,50, já fiz corrida que pagava R$ 15… Depende de como o aplicativo opera na hora de gerar o valor. E essa informação, de como é gerado o valor, não fica visível para a gente”, afirma Matheus.

O jovem conta ter escolhido ser entregador por falta de oportunidades. “É muito vendido o discurso sobre a liberdade de poder ser seu próprio patrão, mas no caso das entregas, o meu sentimento real é que falta opção, e não escolha”, lamenta.

De acordo com pesquisa realizada na Universidade Federal da Bahia, os entregadores que têm no aplicativo sua fonte de renda trabalham, em média, 10 horas e 24 minutos por dia, 64,5 horas por semana. Isso significa mais de 20 horas extras em uma jornada regular. Na média, vão para as ruas atrás do sustento seis dias por semana, sendo que 40% deles trabalham todos os dias.

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Fonte r7
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