Psicóloga espanhola explica como manter a mente sã no auge do coronavírus

Ela dá dicas de como lidar com a morte de um familiar quando o Brasil já atingiu o pico das transmissões e ainda está aprendendo a lidar com a pandemia

Estar em meio a uma pandemia é algo inédito para quase todos os habitantes do planeta, então enfrentar esta crise na saúde também é algo que se aprende no dia a dia. Durante os meses de março e abril, a Espanha foi um dos países com maior número de vítimas fatais do coronavírus, mas não registra nenhuma morte desde o começo de junho. O número é um alívio para o país que perdeu mais de 28 mil pessoas desde o início da contaminação.

Agora é a vez do Brasil chegar ao pico das transmissões do novo vírus e a psicóloga Cecilia González Elcuaz, que mora em Navarra, ao norte do país, explica que, neste momento de é preciso fazer uma introspecção pessoal sobre como devemos viver, como ter uma mente sã e me cuidar.

“O primeiro de tudo é parar, sentar, respirar e falar muito com a gente mesmo. Gosto de dizer aos meus pacientes que temos de ter um cuidado com nosso psicológico, energético e emocional. O ponto de partida é este. Temos duas perguntas a serem feitas: ‘como posso melhorar?’ e ‘como posso estar bem para ser resiliente?’. Este diálogo interno é fundamental. A chave é tomar a responsabilidade para si”, comenta.

Ela diz que as redes de apoio – como família e amigos – também são muito importantes, ainda mais em momentos críticos como este. Para as pessoas que estão sozinhas, as redes sociais são o melhor caminho para se comunicar.

“A gente precisa estar em contato com outras pessoas para sorrir, chorar ou conversar. É preciso se comunicar e dividir como se sente mais do que nunca. Nem todo mundo tem acesso a ajuda de um profissional e existem muitos programas que fazem terapia gratuitamente, pessoas que ajudam de uma desinteressada e este é um grande momento para isso.”

Cecília declara que o oprimido precisa fazer um esforço para sair do vitimismo, derrotismo e da negatividade para mudar do medo para o amor e acrescenta que a meditação também é uma boa opção para conseguir essa ajuda.

Pedir ao Universo mais amor ao invés de medo. É preciso pedir que vida com gratidão ao invés da guerra. Esta é a forma de se empoderar e crescer, para se sentir melhor. Em resumo: a ideia é sentar consigo mesmo e falar; saber o que precisa; pedir ajuda a familiares, amigos ou vizinhos; ter cuidado um cuidado pessoal como ‘se estarei em casa por mais tempo, então vou comer bem e posso cozinhar algo por mais tempo’. Tudo é importante. Todo esforço para se conhecer e se cuidar é importante”, pontua.

A Espanha já conseguiu zerar o número de mortos, mas ainda contabilizar mais de 100 novos casos do coronavírus (Foto: Getty Images)

Marie Claire: Fugir das notícias negativas ou dos números de mortos é uma boa saída para não se sentir deprimido?
Cecilia González Elcuaz:
 Fugir dos problemas nunca é uma solução. Quando você recebe uma avalanche de informações como “número de mortos” ou “de infecções”, a pessoa precisa entender em que situação ela está naquele momento. Se eu já tenho a informação sobre a situação do país e sobre o que eu tenho que fazer, agora o que eu vou fazer para me sentir melhor? A melhor saída é me proteger para que eu não fique doente ou que eu exercite essa ideia de autoajuda para me sentir bem psicologicamente.

MC: Então estar informado é algo fundamental?
CGE:
 É preciso ter muito cuidado com que se lê principalmente nas redes sociais. Existem notícias falsas que podem estar manipuladas. As pessoas têm o costume de procurar na internet alguma razão de ter uma dor de cabeça e ali encontram mil possibilidades catastróficas. A pessoa se sente pior que antes!

MC: Uma autocobrança para ser mais produtivo neste período é saudável?
CGE:
 Quando eu digo “autocobrança”, automaticamente já estou me obrigando a fazer algo e a questão é: até que ponto isso está me ajudando? Ser produtivo é muito saudável, mas o excesso também é ruim. Muitas vezes, a gente sempre está fugindo de parar porque assim identificamos como estamos tristes ou as coisas que temos que mudar em nossas vidas. A partir daí, nos tornamos muito produtivos. Então, a gente cria um refúgio no álcool, no sexo, no trabalho ou nas redes sociais, tudo isso por medo de vivenciar a dor.  A gente precisa ser produtivo sim, fazer coisas gostosas como cozinhar, aprender um novo idioma, escrever, criar, desenhar ou dançar, mas não pode ser uma cobrança. Ninguém pode estar 24 horas por dia ocupado e se para ataca uma ansiedade. Precisamos nos sentir, perceber as emoções.

MC: Encontrar um refúgio em uma religião ou meditação é saudável?
CGE:
 Sim, não só durante a pandemia do coronavírus. Toda nossa existência é muito pessoal porque cada um funciona de uma forma diferente. A meditação me ajuda muito, assim como meus pacientes, e acredito que precisa mais do que um estilo de vida. Isso nos faz parar, funcionar e nos sentir de novo. Isso me ajuda muito, assim como muitas outras pessoas. Vejo que todos somos almas em constante evolução, que estamos vivendo em um corpo com experiências carnais. Somos energia e temos de cuidar disso. Muitas vezes assumimos energias que, muitas vezes, não são nossas. Estamos fechados dentro de casa, convivendo com seu marido, mulher, mãe, pai ou filho e, quando uma pessoa está irritada, essa energia está naquele local e você a absorve. A gente para e pensa “essa energia não é minha”. Temos de cuidar disso com meditação, parar para respirar e entender este corpo que é energético.

MC: A pandemia é um bom momento para começar um novo projeto?
CGE:
 Claro que sim! Sempre é bom. Agora estamos mais tempo parados e podemos começar. Acredito que é crucial começar o que quiser ainda mais agora que você terá mais tempo para o que quiser. Eu, por exemplo, comecei a fazer um curso online e a estudar francês. Preciso me empoderar e me sentir mais útil. Seria bom também começar a ler sobre psicologia.

MC: E quando alguém da família morre? Como começar a vida de novo?
CGE:
 Estamos vivendo o horror das perdas da pandemia e a vida como a conhecíamos, possivelmente, acabou. A morte é uma dor muito grande, mas não há uma fórmula mágica para estar bem logo em seguida, mas existem muitas fases como a raiva, irritação, da injustiça e da tristeza. Nesta última, é importante chorar e deixar sentir. A partir daí, chegamos à aceitação da dor. A pergunta a ser feita depois dessa fase é: “como meu familiar gostaria que eu recomeçasse minha vida?” Realmente a morte é uma grande dor, mas será que aquela pessoa queria que eu passasse a minha vida triste, me fazendo de vítima? Ela morreu, mas eu não. Se estou aqui ainda é porque eu tenho uma oportunidade de recomeçar. Que bom que estou aqui. Vou realizar meus sonhos, ser a melhor pessoa, crescer, empoderar, pedir ajuda para tudo o que preciso. É importante entender que “eu estou aqui”. A partida daquela pessoa foi dolorosa, mas precisamos ser valentes e tomar para nós a responsabilidade de poder fazer algo grande com essa vida. Assim, este momento é de refletir. Temos que viver debaixo de uma gratidão pela vida. A responsabilidade de cada um é parar para nos curar.

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Fonte revistamarieclaire
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