Especialista responde: afinal de contas, sexo segura casamento?

Sexóloga explica por que fala de Patrícia Abravanel sobre mulheres não poderem "negar fogo" é problemática e faz alerta sobre estupro marital

Patrícia Abravanel gerou uma repercussão pra lá de negativa ao dizer que a mulher não pode se negar a ter relações sexuais com o marido. “Se a gente nega fogo aqui, ele vai procurar ali”.

Na mesma hora, a filha de Silvio Santos teve a fala rebatida pela apresentadora Lívia Andrade, que defendeu o direito das mulheres de dizerem não. “A gente tem que falar a verdade. Não estou a fim e pronto”, disse Lívia, que ganhou o apoio de várias usuárias nas redes sociais.

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‘Ele procura na rua o que não tem em casa’ 

Embora a fala não ter pegado nada bem para Patrícia, a psicóloga especialista em Educação e Saúde e Terapia Sexual Ana Carolina Ciszewski explica que o raciocínio da apresentadora esteve presente na educação de mulheres por gerações. “Durante muito tempo podemos dizer que sim, as mulheres tinham mais medo da traição conjugal do que os homens.” A especialista aponta que apesar dessas ideias serem consideradas antiquadas, isso não significa que elas simplesmente desapareceram. “Muitas mulheres foram criadas por mães e avós que ensinaram a elas que parte do que é ser mulher é poder dar prazer ao seu parceiro.”

Mas afinal, sexo segura casamento? 

“Nenhum relacionamento se sustenta somente pelo sexo” explica Ciszewski. A sexóloga garante que a vida sexual é apenas um aspecto do relacionamento. Segundo ela, é bastante comum que os casais não consigam manter a frequência sexual do início da relação.  “As mudanças que ocorrem com os anos de relacionamento fazem com que as prioridades se tornem outras, como a família, o ciclo social, as contas. Tudo isso faz com que o sexo seja importante, mas como um complemento e não uma prioridade.”

Quando o senso comum vira abuso

Se a ideia de que a mulher heterossexual não deve negar sexo ao parceiro ainda persiste durante gerações, as consequências para sua integridade física e emocional também são igualmente sérias. Forçar uma relação sem o consentimento do parceiro tem nome: se chama estupro marital, e muitas mulheres sequer têm noção de que foram vítimas de um crime porque foram ensinadas que o comportamento do parceiro é normal.

Segundo o relatório do Ipea ‘Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde’ 9,3% dos casos de abuso sexual sofridos por mulheres maiores de idade são praticados pelo marido.

“Independentemente de ser homem ou ser mulher todos temos o direito de dizer não quando não nos sentimos confortáveis diante de uma situação”, alerta a sexóloga.

De acordo com a especialista, falas como as de Patrícia, ditas em rede nacional, contribuem para que muitas mulheres se sintam obrigadas a ter relações sem prazer, submetendo-se a situações de desconforto. “Abusos verbais e psicológicos são comportamentos tão abusivos quanto os de cunho sexual. O abuso ocorre quando não há o consentimento pleno e o medo da traição se torna o único motivo para a relação sexual.”

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Fonte r7
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