ZyCoV-D: veja como funciona a 1ª vacina de DNA aprovada na Índia

O órgão regulador de medicamentos da Índia aprovou no final de agosto o uso de uma nova vacina que, além de voltada para a prevenção da covid-19, representa um avanço relevante na área de imunizantes: a ZyCoV-D, primeira vacina no mundo a utilizar moléculas circulares de DNA. Ela é administrada em três doses, em intervalos de 28 dias, e não usa agulhas, sendo aplicada nas primeiras camadas da pele.

Fabricada pela farmacêutica indiana Zydus Cadila, a nova vacina de DNA não foi projetada exclusivamente para a covid-19, mas é resultado de uma tecnologia estudada desde a década de 1990, sendo usada até hoje apenas no campo veterinário. A ZyCoV-D é a precursora de uma nova onda de vacinas que utiliza os plasmídeos, moléculas de DNA, para codificar os antígenos contra os quais se busca uma resposta imune satisfatória.

Características da ZyCoV-D

O imunizante de DNA da Índia é destinado inicialmente apenas a pessoas com mais de 12 anos, e seus testes de fase 3, realizados com mais de 28 mil participantes, apontam uma proteção de 67% contra a eclosão de sintomas da variante delta do coronavírus, surgida justamente naquele país, com um dos mais altos índices de transmissibilidade da covid-19 no mundo.

Apesar de apresentar uma eficácia inferior às vacinas de RNA mensageiro (mRNA), como as da Moderna e da Pfizer, o novo imunizante é oportuno por explorar uma nova classe de vacinas para combater a pandemia. Segundo o imunologista Gustavo Cabral de Miranda, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, a resposta imunitária celular ativada pelas células T é tão importante quanto os próprios anticorpos, afirmou o especialista à Revista Pesquisa da Fapesp.

Imunizantes de DNa são mais fáceis e baratos de produzir e não demandam condições especiais de armazenamento. (Fonte: Zydus Cadila/Divulgação)

O funcionamento da vacina de DNA

Antes de falar em vacina de DNA, é importante lembrar que nos últimos 100 anos, a vacinação tem funcionado através da estimulação do sistema imunológico humano com um agente infeccioso, ou partes dele, atenuado ou inativado de forma a não causar nenhum tipo de dano ou doença. Por outro lado, o imunizante assegura que, assim que o hospedeiro for atacado pelo agente infeccioso, este será completamente neutralizado pelo sistema imune.

Da mesma forma que as vacinas de mRNA, as de DNA usam nosso equipamento celular para fazer esse trabalho. Diretamente das aulas de Citologia, lembramos que o DNA armazena nossas informações genéticas dentro das células, enquanto a molécula de RNA leva instruções aos ribossomos, estruturas celulares do citoplasma que produzem proteínas de acordo com as instruções entregues por aquele RNA mensageiro.

Por essas definições, já é possível perceber que o trabalho de levar uma versão inócua, porém reconhecível, de uma proteína característica do vírus, as vacinas de DNA necessitam cumprir um passo a mais. Isso porque, enquanto as vacinas de mRNA já levam a “receita” de fabricação do antígeno diretamente às maquininhas de fabricar proteínas (ribossomos e organelas), os plasmídeos de DNA têm de transcrever a informação no RNA antes.

Essa limitação pode explicar em parte as baixas respostas imunológicas da vacina de DNA em testes clínicos. A solução encontrada para superar essa eficácia reduzida do imunizante baseado em plasmídeos foi alterar a forma de administrá-lo: ao preferir pressionar a ZyCoV-D na pele do que injetá-la no tecido muscular, os cientistas criaram um fluxo fino de alta pressão capaz de atravessar as camadas celulares.

 

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Fonte tecmundo
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