Desequilíbrio na produção de citocinas pode explicar letalidade da Covid-19

Sars-CoV-2 desregula a produção de determinadas proteínas do sistema imunológico, causando respostas imunes mais perigosas se comparadas a outros vírus respiratórios

Desde o início da pandemia de Covid-19, cientistas procuram entender como o corpo humano responde à infecção pelo Sars-Cov-2. Em um novo estudo, pesquisadores dos Institutos Earlham e Quadram, ambos da Inglaterra, reforçam a hipótese de que, ao invés de ajudar, em alguns casos essa resposta pode ser fatal.

Publicada nesta segunda-feira (1) no periódico Frontiers in Immunology, a pesquisa analisou como o sistema imunológico reage ao entrar em contato com cinco tipos de vírus: o Mers-CoV, que se espalhou no Oriente Médio em 2012; o Sars-CoV, que apareceu na China em 2003; dois subtipos de vírus influenza A (H5N1 e H7N9); e, é claro, o Sars-Cov-2.

Mas o que esses vírus têm em comum? Todos eles, segundo os cientistas, são capazes de desencadear um fenômeno conhecido como “tempestade de citocinas” – ou Síndrome de Liberação de Citocinas (SRC, na sigla em inglês). O quadro é observado quando o sistema imune responde de forma exagerada a uma infecção, produzindo citocinas em excesso. Se uma região do corpo é afetada por partículas virais, por exemplo, essas moléculas são responsáveis por levar um “reforço” de células imunológicas ao local. Em excesso, não só combatem os vírus – ou outros tipos de patógenos –, mas também o próprio corpo do paciente, resultando em falência de órgãos e até levando à morte.

De acordo com o estudo, embora compartilhe semelhanças com outros vírus respiratórios, esse desequilíbrio no sistema imune pode ser mais letal em casos de infecção pelo Sars-Cov-2. Isso porque, diferente dos outros quatro vírus em questão, o novo coronavírus estaria por trás de um desajuste na produção de reguladores específicos associados à resposta das citocinas. “O Sars-CoV-2 não eleva todas as citocinas esperadas em pacientes como os outros vírus respiratórios estudados, como as citocinas elevadas após uma infecção por influenza: IL-2, IL-10, IL-4 ou IL-5”, diz o estudo. Entre as citocinas que seriam desajustadas pelo vírus causador da Covid-19, a pesquisa cita a IFN-γ e a IL-1β.

Mapeamento de citocinas

Para chegar a essas respostas, o grupo analisou mais de 5 mil estudos da literatura científica com dados de pacientes – simulação de reações em laboratório e linhagens celulares foram descartados – que, durante a infecção por um desses cinco tipos de vírus, tiveram aumento ou nenhuma mudança nos níveis de citocinas.

“Nosso objetivo é que esse mapeamento de respostas de citocinas ajude os especialistas a identificar intervenções que podem aliviar casos graves de Covid-19 e outras doenças que causam desequilíbrio na produção de citocinas”, conclui a pesquisa.

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Fonte revistagalileu
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