Questão ambiental é base para desenvolvimento, diz Marina

Ministra do Meio Ambiente participa do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS)

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi ovacionada na noite de 5ª feira (26.jan.2023) no Auditório Dante Barone, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, no centro de Porto Alegre. O local recebe os principais eventos do Fórum Social Mundial.

A ministra conversou com jornalistas antes do evento. Ressaltou que a questão ambiental é a base para qualquer projeto de desenvolvimento econômico. “Não existe nenhuma atividade econômica que não parte da base natural do desenvolvimento. No caso da segurança alimentar, nós precisamos de terra fértil, nós precisamos de água, nós precisamos dar suporte, de assistência técnica e acesso à terra para os produtores”, afirmou Marina.

A líder do governo para o meio ambiente destacou que, em um país com 8 milhões de quilômetros quadrados de área, como o Brasil, há espaço para a diversificação da economia, incluindo o agricultor familiar, extrativistas, povos indígenas e agronegócio de base sustentável. De acordo com ela, uma parte dos empresários do setor busca a certificação ambiental para seus produtos e não quer ser associada ao crime ambiental e à destruição do meio ambiente.

“Não existe agricultura sem água, não existe água sem floresta. E é por isso que o presidente Lula (PT) tem o compromisso de desmatamento zero até 2030. É uma tarefa hercúlea. Porque a agricultura é importante para o Brasil. Nós temos uma importante parte da nossa balança comercial ligada ao setor do agronegócio. Agora, vamos separar o joio do trigo. O que é o ‘ogro negócio’ e o que é o agronegócio. É esse o debate que o governo quer fazer.”

Quanto às medidas do governo para o pequeno produtor rural, Marina destacou a retomada do Plano Safra e do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), como indutores de uma agricultura sustentável e de baixo carbono.

A ministra também reafirmou os compromissos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o meio ambiente como uma pauta transversal, com atuação em todos os ministérios, além da meta de “desmatamento zero”.

Terra e alimentação

Marina participou da mesa “Fortalecer a Terra, Alimentar o Brasil” do Fórum Social Mundial.

No debate, a ministra destacou o paradoxo que é o Brasil ser um grande exportador mundial de grãos e alimentos, enquanto 33 milhões de pessoas passam fome e 25 milhões estão em situação de insegurança alimentar no país.

O presidente do Consea-RS (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul), Juliano Sá, acrescentou que o mundo passa por crises paradoxais e relacionadas: a crise ambiental e climática, causada pela destruição do meio ambiente, e os problemas da fome e da obesidade.

“Obesidade não é porque as pessoas comem muito, é porque comem mal. O sistema assassina os valores e costumes alimentares de cada população e as pessoas acabam comendo o alimento ultraprocessado no lugar do alimento saudável. Elas comem mal por necessidade. Na periferia não chega a feira agroecológica, porque o orçamento não dá”, disse Sá.

Na avaliação dele, a fome é um projeto político combatido por movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MTST (Trabalhadores Sem Teto), quilombolas, estudantes e mulheres, “que fizeram a resistência nos territórios nos últimos 4 anos”.

O Consea entregou um documento à ministra, propondo que locais como hortas e cozinhas comunitárias, que tiveram papel fundamental no combate à fome durante a pandemia, sejam transformadas em Pontos de Soberania Alimentar e Nutricional, a exemplo dos Pontos de Cultura que receberam fomento do governo federal.

Ambientalismo popular

O biólogo Victor Marques, professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) e editor da Revista Jacobin Brasil, apresentou o conceito de ecologia com luta de classes para discutir “a questão fundamental que a humanidade vai precisar enfrentar”. De acordo com ele, é necessário adotar a estratégia do “ambientalismo popular”.

“É uma ecologia para os 99%. A pauta do meio ambiente não pode ser apenas para a elite e a classe média. Ela tem que ser uma pauta geral e ampla. Então precisa conectar os interesses ambientais com as necessidades materiais dessas classes. Conectar o problema do fim do mundo com o problema do fim do mês.”

Marques afirmou que no Brasil, ao contrário de muitos países ditos desenvolvidos, o problema ambiental não está tão relacionado à questão energética, mas sim ao uso do solo.

“É um problema fundiário. Tem a ver com o desmatamento, a expansão da fronteira agrícola e a mudança do uso do solo. Demarcar as terras indígenas é uma forma de adiar o fim do mundo. E passa também pela reforma agrária, reflorestando e pensando novas formas produtivas, com agroecologia”, falou.

O Fórum Social Mundial vai até sábado (28.jan.2022), com debates, oficinas, rodas de conversa e atividades culturais.

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