De galpão a escritório: maior complexo comercial de São Paulo atrai empresas para além da Faria Lima

As regiões em torno das avenidas Faria LimaBerrini e Paulista são os mais conhecidos polos empresariais da cidade de São Paulo – e estão entre as localizações mais nobres do País para se instalar um edifício comercial. Um fato, no entanto, contraria as expectativas: o maior complexo empresarial da capital paulista não está próximo a nenhum dos três maiores centros econômicos da cidade.

O endereço do recordista é a Rua Werner Von Siemens, no bairro da Lapa, Zona Oeste, ao lado da Marginal Tietê. EXAME visitou o E-business Park, complexo de 160 mil metros quadrados de área, que tem um tamanho equivalente a quase 15 campos de futebol. Com 120 mil metros quadrados de escritórios, o complexo recebe 10 mil funcionários diariamente.

Antes antiga fábrica da Siemens no Brasil, o E-business Park passou por um processo de retrofit, que modernizou e adequou os galpões, hoje transformados em lajes corporativas. São 20 prédios ao todo, com apenas uma torre comercial convencional.

Maurício de Souza Produções é a companhia nacional de maior destaque do E-business Park, mas 85% das 29 locatárias são multinacionais, em especial indústrias. Entre os principais nomes estão NokiaHenkel e Lenovo.

A empresa de energia EDP é uma das novatas no empreendimento. Chegou em meio à pandemia, vinda da Vila Olímpia, bairro entre a Faria Lima e a Berrini. Hoje, ocupa uma laje única de 6,6 mil metros quadrados do E-business Park – o maior espaço do complexo, que oferece lajes a partir de 291 metros quadrados.

O que atrai as companhias para fora das regiões queridinhas do mundo dos negócios é, principalmente, uma combinação de preço e segurança, segundo Sidney Angulo, empresário e diretor do E-business Park. “Como temos uma área grande, conseguimos um preço muito melhor em aluguel, condomínio e IPTU. Outro ponto é a segurança: temos tudo aqui dentro, de farmácia a cabeleireiro”, diz.

A distância dos grandes centros de negócios da cidade permite que o E-business Park ofereça um preço de locação competitivo. O metro quadrado para aluguel no complexo custa, em média, R$ 75 por metro quadrado, variando de R$ 60 a R$ 100. A efeito de comparação, a locação dos prédios mais cobiçados da Faria Lima pode alcançar R$ 400 por metro quadrado nos cálculos da MBRAS, boutique imobiliária de alto padrão.

Sidney Angulo, diretor do E-business Park: “Conseguimos um preço muito melhor em aluguel, condomínio e IPTU” (E-business Park/Divulgação)

Um bairro fechado

Dos 160 mil metros quadrados do complexo, pouco menos da metade (61,8 mil) são dedicados a 2,7 mil vagas de garagem. Além disso, o empreendimento funciona como um pequeno bairro, com agência bancária, praça de alimentação, mini mercado, farmácia – tudo para que o funcionário seja atendido dentro do próprio complexo.

Com o número crescente de furtos e assaltos nas grandes vias comerciais de São Paulo, Angulo diz que oferecer um complexo fechado agrega valor. “Nossa segurança é feita por drones, que filmam e monitoram todo o ambiente, além de motos elétricas que rodam 24 horas. Poucas áreas da cidade são tão monitoradas. Nunca tivemos nenhum incidente de segurança no E-business Park. E as empresas gostam desse diferencial”, disse.

Para o segmento industrial, outro ponto de destaque é a localização próxima às marginais, às rodovias Anhanguera e Bandeirantes, e o acesso simplificado aos aeroportos de Congonhas e Guarulhos. O complexo fica ao lado da estação Lapa, da CPTM.

O E-business Park conta ainda com uma peculiaridade em energia. A herança fabril deixou uma subestação de energia dentro do empreendimento. “As turbinas de Itaipu foram feitas aqui dentro; era uma demanda energética de 30 prédios. Conseguimos manter essa subestação, então dificilmente ficaremos sem energia”, comenta Angulo.

O pacote listado acima agrada: a vacância do E-business Park ronda em média, 16%, abaixo do patamar médio corporativo da cidade, na casa dos 20%. “Quando as empresas nos descobrem, elas decidem sair da Vila Olímpia ou de Alphaville para vir para cá.”

Escritório da EDP no E-business Park: companhia ocupa laje única de 6,6 mil metros quadrados – a maior do complexo (EDP/Divulgação)

Complexo-parque e sustentabilidade

Sidney Angulo é idealizador e fundador do E-business Park. Junto ao sócio empresário Helio Seibel, ele comprou o complexo da Siemens em 2004, em seu projeto mais ambicioso de retrofit até então. Chamou a atenção a área verde da fábrica, que, após a aquisição, foi expandida com paisagismo. A inspiração principal para a ampliação foi o Instituto Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo e referência em paisagismo tropical.

O objetivo foi criar uma atmosfera de campus, onde os prédios são cercados de áreas verdes. A preservação das áreas verdes é apontada como um dos motivos da falta de verticalização do E-business Park, que tem apenas um edifício alto. “Nada seria mais fácil que derrubar os galpões e construir prédios comerciais. Mas preferimos preservar as estruturas e manter apenas uma torre convencional”, diz o empresário.

A expansão não está fora dos planos, mas deve acontecer de forma mais comedida. A capacidade do terreno permitiria 400 mil metros quadrados de escritórios contra os 120 mil existentes. As estimativas, no entanto, são de chegar a um patamar de 260 mil metros quadrados. Para essa expansão, Angulo está analisando uma possível parceria.

“Estamos com um M&A [processo de fusão e aquisição] no radar. Temos algumas empresas no alvo para conversar nos próximos anos.”

Área de bosque do E-business Park: objetivo é transformar complexo em museu a céu aberto (E-business Park/Divulgação)

Angulo argumenta que a área verde do complexo vai além do paisagismo. Entre as iniciativas de sustentabilidade, o E-business Park investe em espaços bosqueados, tem 30 mil metros de telhado com placas solares, conta com um sistema de captação e reservatórios de água da chuva, que abastecem o sistema de jardinagem e limpeza.

Entre os pilares ESG (ambiental, social e de governança), a frente social deve ganhar novos contornos nos próximos meses. O plano de Angulo é aproximar o E-business Park ainda mais de sua inspiração em Inhotim, abrindo o complexo para visitação aos finais de semana. O primeiro foco são as escolas, com visitas educativas voltadas para sustentabilidade e botânica.

O plano é transformar o E-business Park no E-business City: abrindo o espaço do complexo para a cidade. Começando com um museu à céu aberto, incrementando o paisagismo com obras de arte. A primeira aquisição foi um mural de 70 metros de comprimento do grafiteiro Kobra, dedicado à diversidade. Inaugurado em janeiro deste ano, o painel se somou a uma praça com esculturas da Mônica cedidas pela Maurício de Souza Produções.

Mural do artista Kobra no E-business Park (Ricardo Cyrillo/Divulgação)
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