Ciclo de alta do juro afeta lucro de empresas, mas não piora alavancagem

Relatório do BTG Pactual mostra que alavancagem média terminou 2021 em 1,6 vez, bem menor do que em 2015

O atual ciclo de juros altos no Brasil pode ser menos dolorido para as companhias do que o anterior, de 2015 e 2016. Pelo menos, essa é a realidade para as companhias abertas. Diante da preocupação dos investidores e da preferência por ativos mais seguros, o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) avaliou a quantas anda a alavancagem das empresas que acompanha. O resultado da avaliação, com base em 125 companhias, é que o nível de endividamento caiu de forma significativa nos últimos seis anos. A relação entre a dívida líquida e o Ebitda das companhias ‘cobertas’ pelo BTG Pactual (sem considerar Petrobras e Vale nessa conta) saiu de 2,9 vezes para 1,6 vez, na comparação entre 2015 e 2021. Incluindo ambas as empresas nessa conta, a alavancagem é ainda menor: 1,2 vez. 

No ciclo de alta de 2015, muitas companhias tiveram de partir para uma reorganização de vencimentos e alguns casos até mesmo uma recuperação judicial. Para esse ciclo, não é que os juros não machucam. Machucam sim, é claro. Mas não devem ser sinônimo de desestabilização dos negócios. A razão para isso é que as companhias cresceram mais que suas dívidas. Segundo o relatório, as empresas abertas (ainda sem considerar Petrobras e Vale) aumentaram em 44% o Ebitda em 2021, enquanto a dívida líquida subiu menos da metade desse percentual, 19%.

Para este ano, os analistas projetam que os indicadores de alavancagem devem se manter nos mesmos patamares observados em 2021. Não previsão de piora na saúde financeira média das companhias Trocando em miúdos, sem considerar Petrobras e Vale na conta, o indicador deve se manter em 1,6 vez e, considerando ambas as companhias, deve ter ligeira queda, para 1,1 vez. A expectativa é que os níveis de Ebitda e dívida líquida se mantenham nos mesmos patamares, o que justifica os resultados.

Apesar de a saúde financeira se manter, a expectativa é que a lucratividade cai em 2022. “A rentabilidade das companhias brasileiras de modo geral teve um pico recentemente, com a margem de lucro líquido em 13,3%. Em 2022, nós projetamos que esse número deve ficar menor, em razão de taxas de juros mais altas e crescimento econômico fraco”, afirmam Carlos Sequeira e Osni Carfi, no documento.

Ou seja, o cenário atual não é catastrófico, mas deve pressionar, sim, o resultado de companhias, em especial aquelas com alavancagem acima da média. No último ano, construção e infraestrutura — cuja operação já é caracterizada por esse fator — fecharam o ano com uma razão superior a 3 vezes a dívida líquida/Ebitda. Para este ano, além da atenção a papéis dentro desses setores, o relatório aponta empresas que têm o mesmo comportamento em outros segmentos, como Magazine Luiza, Via, Gol, Azul e BRF, companhias também afetadas por inflação e pelos efeitos finais da pandemia.

Crescer continua sendo um desafio — mas ao menos as companhias devem enfrentar as atuais turbulências com um fôlego maior. Diferentemente do que ocorreu no ciclo anterior, quando muitas estiveram prestes a sufocar.

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