Vice-presidente do Parlamento Europeu perde poderes

Eva Kaili, uma das 14 vice-presidentes do legislativo da UE, está no centro de uma investigação de corrupção envolvendo o Catar. Ela foi presa em uma operação policial na Bélgica.A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, decidiu neste sábado (10/12) retirar todos os poderes, deveres e tarefas que foram concedidos à vice-presidente Eva Kaili, detida um dia antes por suspeita de corrupção. No entanto, o Parlamento é que deve decidir se ela será afastada do cargo definitivamente.

Kaili, de origem grega, está no centro de uma investigação da Justiça belga sobre suspeitas de suborno e corrupção, lavagem de dinheiro e tentativas de influenciar decisões políticas a pedido de um país do Golfo. De acordo com a mídia europeia, o caso envolveria o Catar, sede da atual Copa do Mundo.

Na sexta-feira, a polícia belga realizou 16 buscas e ao menos cinco prisões. Entre os detidos está Kaili, uma dos 14 vice-presidentes do Parlamento Europeu. A mulher de 44 anos foi eleita para o Parlamento pelo partido Pasok, do grupo social-democrata.

Entre os presos também está o parceiro de Kaili, Francesco Giorgi, que trabalha no Parlamento como assessor de política externa e direitos humanos.

Também foram detidos o ex-eurodeputado social-democrata Pier Antonio Panzeri – atual chefe da organização não-governamental Fight Impunity -, e o secretário-geral da Confederação Internacional de Sindicatos, Luca Visentini. De acordo com relatos da mídia, todos os suspeitos, exceto Kaili, têm nacionalidade italiana ou são descendentes de italianos.

Um tribunal italiano também cinfirmou a detenção domiciliar da mulher e da filha de Panzeri. O julgamento das duas deverá começar em 19 de dezembro. Maria Colleoni, mulher de Panzeri, foi detida na noite de sexta-feira na cidade de Calusco d’Adda. A filha dele, Silvia, foi detida em Milão, ambas em resposta a um mandado de prisão europeu.

Pedidos de renúncia

A eurodeputada do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e vice-presidente do Parlamento Europeu Katarina Barley pediu no sábado que Kaili renuncie.

“As investigações do Ministério Público chegam a um ponto que, como política, ela já não pode representar uma instituição”, disse à televisão alemã. “A esse respeito, esperamos que ela renuncie por vontade própria”, destacou Barley.

O copresidente do grupo de trabalho anticorrupção do Parlamento Europeu, Daniel Freund, pediu que as alegações sejam totalmente esclarecidas. Caso contrário, existe o risco de perda de confiança.

“O Parlamento Europeu é, na verdade, um dos mais transparentes da Europa. Nessas condições, não podemos discutir viagens sem visto para cidadãos do Catar para a UE. É preciso primeiro esclarecer se as decisões do PE ou da UE foram influenciadas aqui”, destacou.

O próprio partido de Kaili, o Pasok, pediu a Kaili que se retire do Parlamento Europeu.

Sacos com notas de dinheiro

Segundo informações do jornal belga L’Echo, os investigadores encontraram “vários sacos cheios de cédulas” no apartamento de Kaili. A polícia chegou até o local após ter encontrado o pai dela com uma grande quantia em dinheiro numa “mala”.

De acordo com o Ministério Público Federal belga, a polícia confiscou dinheiro no valor de cerca de 600 mil, além de dispositivos de armazenamento de dados e celulares, que serão periciados.

Os cinco suspeitos presos na Bélgica na sexta foram interrogados no sábado. Os presos devem testemunhar perante um juiz belga neste domingo.

Catar na mira de investigadores

Segundo a Promotoria Pública belga, um “estado do Golfo” é suspeito de “influenciar as decisões econômicas e políticas do Parlamento Europeu” ao “pagar somas significativas de dinheiro ou dar presentes substanciais”. Círculos familiarizados com a investigação confirmaram relatos da mídia de que esse país seria o Catar.

Questionado pela agência de notícias AFP, um funcionário do governo do Catar disse que o país “não tem conhecimento de nenhum detalhe sobre uma investigação” e que qualquer “alegação de irregularidades por parte do Estado do Catar” é infundada.

Em 22 de novembro, Kaili disse no Parlamento Europeu que a Copa do Mundo no Catar é “uma prova concreta de como a diplomacia esportiva pode levar a uma transformação histórica de um país cujas reformas inspiraram o mundo árabe”.

Segundo Kaili, o Catar é “um líder em direitos trabalhistas”. Pouco antes do discurso, ela se reuniu com o ministro do Trabalho do Catar, Ali bin Samikh Al Marri. Em uma mensagem de vídeo, ela descreveu a Copa do Mundo como um “grande instrumento para mudanças e reformas políticas”.

Há anos, organizações não-governamentais acusam o Catar de violar os direitos humanos de centenas de milhares de trabalhadores migrantes da Ásia e da África. O assunto ganhou às manchetes com a construção de estádios da Copa do Mundo, com acusações de maus tratos aos trabalhadores e relatos de mortes durante as obras.

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Fonte istoe
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