EUA querem usar Nord Stream 2 para pressionar a Rússia

Em visita a Berlim, secretário de Estado dos EUA diz que o gasoduto russo-alemão é um instrumento de pressão contra a Rússia, e ministra do Exterior alemã alerta que Moscou pagará "preço alto" se atacar a Ucrânia.

O polêmico gasoduto Nord Stream 2, que conecta a Rússia à Alemanha e foi concluído em setembro, tornou-se mais um instrumento de dissuasão de países ocidentais contra Moscou em meio a tensões na fronteira russa com a Ucrânia, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.

“É notável que ainda não há gás fluindo pelo gasoduto. Isso significa que o gasoduto é um instrumento de pressão da Alemanha, dos Estados Unidos e de seus aliados, e não da Rússia”, disse Blinken em uma entrevista coletiva com a ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, em Berlim, nesta quinta-feira (20/01).

“Não há dúvida” que Moscou considera esse fato ao analisar seus próximos passos, disse Blinken, “especialmente se levarmos em conta os firmes pronunciamentos feito por países sobre as consequências sérias que a Rússia enfrentaria no caso de uma agressão contra a Ucrânia”.

Baerbock, por sua vez, enfatizou que Moscou pagará um “preço alto” por uma invasão da Ucrânia, e que Berlim estava em estreita coordenação com os EUA na questão das sanções, que incluiriam também “a questão da energia”.

Sobre o Nord Stream 2, Baerbock fez referência às declarações do chanceler federal Olaf Scholz nesta semana. Questionado sobre as repercussões políticas do gasoduto, Scholz disse na terça-feira que estava claro “que tudo terá que ser discutido se houver uma ação militar contra a Ucrânia”. Nada mudou desde então, disse Baerbock nesta quinta.

Nesta terça, Baerbock também fez sua primeira visita oficial a Moscou e insistiu na retomada veloz de negociações de paz no conflito da Ucrânia.

Gasoduto polêmico

O uso do Nord Stream 2 como instrumento de sanções é controverso na Alemanha, e parte do Partido Social-Democrata (SPD), de Scholz, argumenta que o gasoduto é um projeto econômico, e não político.

O gasoduto tem sido há anos fonte de divergências entre a Alemanha e seus aliados. Blinken ressaltou na quinta-feira que os Estados Unidos se opuseram por muito tempo ao projeto. Em julho de 2021, Berlim e Washington chegaram a um acordo que permitiu a conclusão do projeto sem sanções americanas em setembro.

Gasoduto foi concluído em setembro, mas ainda não está em funcionamento

Mas, em novembro, o regulador do setor de energia da Alemanha interrompeu temporariamente o processo de aprovação do gasoduto, dizendo que a subsidiária definida para operar a parte alemã ainda não atendia às condições para ser uma “operadora de transmissão independente”.

O gasoduto sob o Mar Báltico tem 1.200 quilômetros de extensão e se destina a dobrar o fornecimento de gás russo para a Alemanha. Durante a sua construção, Berlim argumentou que o projeto era necessário para ajudar na transição energética deixando para trás combustíveis fósseis e energia nuclear e rumo a fontes sustentáveis.

Tensões na fronteira

A Rússia enviou dezenas de milhares de soldados para a região da fronteira com a Ucrânia nas últimas semanas, e uma retórica cada vez mais ameaçadora tem aumentado os receios no Ocidente de que Moscou possa usar força militar para tentar impedir uma potencial adesão da Ucrânia à Otan.

Moscou nega veementemente tais planos, mas Putin ameaçou uma resposta “técnico-militar” não especificada caso o Ocidente não leve a sério um conjunto de exigências de segurança do Kremlin, incluindo um fim à expansão da aliança militar ocidental em direção ao leste.

Países ocidentais, por sua vez, estão ameaçando Moscou com sanções se as Forças Armadas russas invadirem o país vizinho. Na quarta-feira, o presidente americano, Joe Biden, disse que uma intervenção russa na Ucrânia seria um “desastre” para Moscou, que pagaria caro por uma invasão do país.

Nesta quinta, o Kremlin respondeu que a declaração de Biden não ajuda a reduzir as crescentes tensões pode até desestabilizar ainda mais a situação ucraniana. “Acreditamos que eles não contribuem de forma alguma para aliviar a tensão que agora surge na Europa e, além disso, podem contribuir para a desestabilização da situação”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

bl (AFP, ots)

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Fonte dw
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