Eleições na França: Macron é reeleito presidente com 58,6% dos votos

Emmanuel Macron foi reeleito presidente da França neste domingo (24/04) com 58,54% dos votos válidos, segundo dados da autoridade eleitoral francesa com 100% das urnas apuradas. Sua rival, a candidata da direita radical Marine Le Pen, ficou com 41,46%. O resultado final traz uma margem maior do que apontavam as pesquisas de intenção de voto às vésperas da eleição, com Macron entre 53% a 57,5% e Le Pen, de 42,5% a 47%.
Analistas afirmam que, no segundo turno das eleições francesas, o mandatário, de perfil político centrista, se beneficiou mais do sentimento de rejeição de parte do eleitorado em relação à Le Pen, com votos destinados a barrar a chegada da direita radical ao poder, do que de uma real adesão às suas ideias e ao seu programa de governo.
O resultado deste pleito, no entanto, mostra que Le Pen cresceu em relação às eleições de 2017, quando Macron a venceu com 66% dos votos válidos — ela teve 33% naquele ano.
Em discurso logo após a divulgação das pesquisas de boca de urna, Macron agradeceu a todos que votaram nele e disse estar ciente de que parte das pessoas o escolheram não tanto por suas qualidades, mas para barrar o avanço da extrema direita no país.

Ele também fez um aceno aos eleitores da rival. “De agora em diante, não sou mais o candidato de um campo, mas o presidente de todos. Falo àqueles que votaram na extrema direita que minha responsabilidade e a de minha equipe será também abordar suas preocupações”, disse.

“Vou trabalhar por uma sociedade mais justa, e igualdade entre homens e mulheres”, afirmou. “Precisamos mostrar respeito porque nosso país está tão dividido… Ninguém será deixado de lado.”
O pleito também foi marcado pela alta abstenção, com comparecimento em torno de 72% do total (patamar mais baixo desde 1969). Macron recebeu cerca de 18,8 milhões de votos, Le Pen somou 13,3 milhões e mais de 3 milhões de eleitores votaram em branco ou anularam o voto.

Le Pen reconheceu a derrota em discurso logo após o anúncio da pesquisa de boca de urna

Marine Le Pen também se pronunciou após a divulgação das pesquisas. Disse que “o resultado ainda é uma vitória para seu partido (Reunião Nacional, também conhecido em português como Reagrupamento Nacional)”.
“Respeito o veredicto das urnas”, disse ela.
Le Pen acrescentou que continuaria sua luta na política francesa — anteriormente, a candidata havia dito que poderia deixar a política se perdesse as eleições deste ano.
Análise – Hugh Schofield, correspondente da BBC em Paris

Os resultados da eleição sugerem que, escondidos sob a massa fervilhante de caricaturas da mídia social — os arrogantes ricos parisienses, a turba provinciana irritada — há milhões de franceses médios que sentem que Emmanuel Macron não foi um mau presidente.
Essas pessoas entendem que o desemprego não é mais uma questão política, em grande parte por causa das reformas de Macron. Eles acham que suas políticas para combater a pandemia de covid-19 foi competente e concordam que adiar a idade de aposentadoria é inevitável.
Esses eleitores também identificam um líder que pode mais do que se manter no cenário internacional. Eles estão felizes por haver alguém no Palácio do Eliseu (residência oficial do presidente francês) com estatura para falar diretamente com o colega russo Vladimir Putin, mesmo que tenha sido um esforço infrutífero.
E eles avaliam que sob Macron a França pode aspirar a assumir a liderança na Europa, em um momento em que sua visão de maior autonomia militar e econômica para a União Europeia parece cada vez mais relevante. O contraste nesta frente com Le Pen não poderia ser mais gritante. Essas pessoas podem não gostar particularmente de Macron, mas o suficiente para respeitá-lo.
Esse acima é o primeiro aspecto da estratégia política de Macron, que conquistou a primeira reeleição em décadas no país. Mas o segundo ponto é mais problemático.
Cinco anos atrás, ele fez uma aposta brilhante sobre o estado da política moderna. Ao ocupar o centro, destruiu a velha dupla de conservadores e social-democratas e, usando os poderes implícitos na Quinta República de Charles de Gaulle, instalou um sistema de governo altamente personalizado e altamente concentrado a partir do Eliseu.
A oposição foi forçada aos “extremos” da esquerda e da direita, lugares em que Macron acreditava que nunca poderiam realmente representar uma ameaça. Até agora ele provou estar certo, como mostra esta eleição.
Mas a eleição também demonstrou outra coisa: que mais e mais pessoas na França estão agora preparadas para se aproximar desses “extremos”. Eles fazem isso porque — graças às mudanças implementadas por Macron — não há outro lugar para eles irem se quiserem se opor a ele.
Muitos desses eleitores — especialmente os milhões que escolheram o candidato de extrema esquerda Jean-Luc Mélenchon — agora querem se vingar do recém-reeleito chefe de Estado.
Eles esperam poder fazê-lo nas eleições parlamentares que ocorrerão em junho — pesquisas indicam que 61% dos eleitores defendem que Macron não tenha maioria e precise compor com outras forças políticas. Mas se isso não funcionar, eles sonham com um “terceiro turno” social em setembro, sob a forma de manifestações anti-Macron nas ruas, especialmente se ele já tiver lançado uma nova onda de reformas.

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Fonte bbc
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