O Brasil está de volta ao cenário internacional e a caravana recorde de empresários à China resgata esse protagonismo

O presidente volta em grande estilo ao cenário internacional levando uma comitiva inédita para a China. Ele consolida seu papel de líder global retomando laços cortados pelo bolsonarismo e buscando influenciar nos temas mundiais. O chanceler Mauro Vieira busca manter o equilíbrio na relação com o gigante asiático e com os EUA

Lula priorizou duas marcas para seu terceiro mandato. Primeiro, ajudar os pobres, responsáveis em grande parte por sua volta ao poder. Para isso, já relançou os principais programas sociais de suas gestões anteriores. O outro símbolo que desejava retomar é de um líder global, capaz de transitar entre os principais chefes de Estado e influir nos rumos da política internacional. Enquanto a primeira meta depende da economia e de ações que vão demorar meses ou anos para se concretizar, o segundo objetivo foi alcançado num prazo recorde e de forma até surpreendente. Desde que venceu as eleições, o petista já se encontrou pessoalmente com os principais dirigentes globais e vai coroar esse esforço inicial à frente de uma megacomitiva, recorde em dimensão e ambição, em direção à China, para estreitar os laços com a nova potência rival dos EUA.

A viagem foi marcada para a sexta-feira, 24, e tem uma agenda repleta no gigante asiático. Junto com mais de duas centenas de empresários, três governadores, ao menos seis ministros e a cúpula do Congresso, vai fechar pelo menos 20 acordos nas áreas de agronegócio, tecnologia, comércio, educação e cultura, sendo o mais promissor aquele que prevê uma geração de novos satélites. Um fundo de financiamento chinês de US$ 20 bilhões também pode sair do papel. Diversos setores estarão representados, como agronegócio, mineração, indústria, aeronáutica e construção civil. A procura por assentos na delegação foi tão grande que fez o vice-presidente, Geraldo Alckmin, brincar que estava ocorrendo um “overbooking de empresários” (embora seja o titular do estratégico Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Alckmin não sairá do Brasil porque ocupará interinamente a Presidência).

O Brasil está de volta (Crédito:Divulgação)

Apesar da diversidade de áreas, é o agro que concentra o maior interesse (a soja é o principal item da pauta de exportação; a carne bovina, o terceiro). O grupo do setor embarcou antecipadamente e tem 102 nomes, com a prioridade de abrir portas. Desde 2019 não há novas certificações para empresas brasileiras de proteína animal, e um caso do mal da vaca louca no Pará fez a China suspender as importações de carne bovina em fevereiro. Numa antecipação de resultados concretos do encontro, o governo anunciou que os chineses aceitaram levantar esse embargo. Lula aproveitará para tentar restabelecer os laços com esse segmento, que debandou em peso para o bolsonarismo nos últimos anos.

Lula, Presidente e Mauro Vieira, Chanceler (Crédito:Divulgação)

Na área de tecnologia, a principal expectativa é sobre o acordo para a construção e o lançamento de um novo satélite sino-brasileiro, que permitirá o monitoramento do desmatamento na Amazônia e em outros biomas. O CBERS 6 (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) permitirá observar a floresta mesmo com nuvens e trará imagens ao vivo. O programa binacional já produziu e colocou em órbita cinco satélites desde 1999. Os investimentos desde o início superam U$ 300 milhões.

Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, que se beneficiou no ano passado de um superávit de US$ 61,8 bilhões. Isso explica o interesse de companhias como JBS, Marfrig, Vale e Suzano em integrar a comitiva. Os chineses têm forte presença no setor de eletricidade brasileiro e estão expandindo sua participação na indústria automobilística. A BYD, líder em carros elétricos, estuda adquirir a antiga fábrica da Ford em Camaçari (BA), o que pode ser anunciado durante a viagem, e a Great Wall comprou no ano passado a antiga fábrica da Mercedez-Benz em Iracemápolis (SP), com investimento previsto de US$ 10 bilhões. No sentido inverso, a Embraer gostaria de vender aos chineses seu mais sofisticado avião comercial, o jato de médio porte 190 E2.

Mais do que tratar de temas de interesse mútuo, como transição energética e segurança alimentar, essa viagem tem uma grande importância simbólica para os dois líderes. É a terceira viagem de Lula à China. Desta vez busca se fortalecer em seu terceiro mandato, enquanto o Brasil tem um papel relativo menos forte por conta das sucessivas crises econômicas. A China, por outro lado, ampliou na última década ainda mais sua influência global. Virou alvo dos EUA e duela com os americanos pelo posto de superpotência. Xi Jinping acaba de renovar seu mandato e concentra um poder que lembra o de Mao Tsé-tung há 50 anos. Há pouco intermediou a reconciliação de Irã e Arábia Saudita, uma iniciativa no plano global que causou arrepios em Washington. Já em relação ao Brasil, nos últimos anos o governo de Xi Jinping precisou aguentar com pragmatismo os insultos de Jair Bolsonaro et caterva. Houve desde injúrias racistas até o surrado vitupério anticomunista. Diante disso, os chineses exerceram a paciência oriental. A estratégia do “lobo guerreiro”, a nova diplomacia de afirmação do poder chinês, resumiu-se no caso brasileiro a tuítes irritados do ex-embaixador em Brasília, inclusive contra filhos do ex-presidente.

PRESTÍGIO Lula é recebido por Joe Biden na Casa Branca, em 10 de fevereiro. Abaixo, o presidente recebe o chanceler alemão Olaf Scholz em Brasília, dia 30 de janeiro (Crédito:Divulgação)

Com Lula, isso são águas passadas. O petista quer retornar o protagonismo histórico brasileiro na América Latina, o que ajuda os chineses. O brasileiro também deve retomar seu papel de liderança do “Sul global”, reconsquistando seu lugar como player internacional. O grande responsável por esse “revival” no cenário externo é o chanceler Mauro Vieira, que voltou ao cargo que ocupou no governo Dilma Rousseff. O diplomata fluminense manteve contato próximo com o petista na época amarga da prisão em Curitiba, foi relegado a uma representação secundária no governo Bolsonaro (a embaixada na Croácia), mas voltou para a cadeira mais cobiçada do Itamaraty em janeiro. Foi escolhido por Lula logo depois da eleição, coroando uma carreira em que ocupou alguns dos postos mais importantes da diplomacia brasileira: as embaixadas nos EUA e na Argentina e a representação na ONU.

Vieira recebeu a missão de anunciar ao mundo que o Brasil “está de volta”, uma orientação literal do presidente durante a COP27, no Egito, em novembro. Antes da posse, Lula visitou em Portugal o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e, na França, Emmanuel Macron. Desde janeiro, o mandatário já se reuniu com Joe Biden nos EUA (país que se mantém como o maior parceiro brasileiro em termos de investimentos) e se encontrou com os três parceiros do Mercosul: o paraguaio Mario Abdo Benítez em Foz do Iguaçu e os presidentes Alberto Fernández, na Argentina, e Luis Lacalle Pou, no Uruguai. Recebeu ainda o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz em Brasília. A jornada na China é o coroamento dessa fase inicial. Completa um ciclo das visitas presidenciais ao exterior nos primeiros três meses, o que – segundo o chanceler – foi um plano encomendado por Lula. E em grande estilo, para coroar os cem dias de governo, pode-se acrescentar.

A deferência com tamanha comitiva ao líder chinês é um contraponto significativo à visita aos EUA em fevereiro, quando Lula teve uma passagem-relâmpago. Com Biden, houve apenas uma conversa sobre a preservação da democracia e do meio ambiente, temas que o americano priorizou na agenda bilateral desde o ano passado, e nenhum anúncio concreto de aporte para o Fundo Amazônia foi anunciado, o que frustrou a delegação brasileira.

DE VOLTA O chanceler Mauro Vieira: agenda cheia em três meses (Crédito:Sergio Lima)

Isso não tornou o compromisso menos relevante. O democrata pode não ter recebido o brasileiro com (muitas) fanfarras, mas foi um dos primeiros líderes mundiais a reconhecer a vitória de Lula, afastando qualquer tentativa bolsonarista de sublevação. Mesmo assim, o encontro em Washington teve apenas uma agenda política, sem empresários. O chanceler argumenta que as relações com os EUA já são sólidas e antigas e não há nenhum tipo de privilégio para o parceiro mais recente. Pode ser, mas a planejada visita de Lula em Xangai à fábrica da gigante tecnológica Huawei, acusada pelos americanos de espionagem, pode causar mal-estar. O Itamaraty quer evitar isso. Trata-se de uma tradição da doutrina diplomática brasileira cultivar o multilateralismo e explorar oportunidades em potências rivais. É o que Lula está fazendo. É do jogo, os americanos entendem isso, mas há várias razões para a visita em Pequim ser vista com reservas em Washington.

O papel de Lula na disputa econômica entre China e EUA certamente é estratégico para as duas superpotências. Mais do que isso, serão importantes os sinais que o brasileiro pode emitir sobre a grande questão geopolítica atual, a invasão russa na Ucrânia. Xi Jinping recebe Lula uma semana depois de visitar Moscou, quando deu uma demonstração de apoio a Vladimir Putin. O chinês usa a proximidade com o presidente russo para minar a influência global dos EUA, maior apoiador da Ucrânia. Esboçou um plano de paz, rejeitado por americanos e europeus por ser considerado favorável aos interesses russos. A diplomacia americana teme que o Brasil se volte para um projeto semelhante. Antes de assumir, Lula esboçou uma condenação ao presidente Volodymyr Zelensky. Depois da posse, moderou o tom e condenou a invasão russa. Ao lado de um espantado Olaf Scholz, Lula chegou a dizer que “quando um não quer, dois não brigam” (a Alemanha mudou sua política histórica de não intervenção para apoiar os ucranianos). Em Brasília, chegou-se a cogitar a criação de um grupo de países não envolvidos na guerra para tentar intermediar uma solução. Hoje, Mauro Vieira relativiza a iniciativa brasileira e diz que Lula nem tem a pretensão de liderar um acordo de paz.

Já os sinais ideológicos de governo brasileiro em direção à velha esquerda continuam a chamar a atenção. Lula escolheu para sua primeira viagem internacional prestigiar na Argentina a Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), um bloco de viés antiamericano, onde encontrou críticos dos EUA, como o ditador cubano Miguel Díaz-Canel Bermúdez. Já tinha defendido no ano passado o governo do nicaraguense Daniel Ortega, um dos autocratas mais repudiados da atualidade, que está em pé de guerra até com o Vaticano. E o ex-chanceler e assessor especial da Presidência Celso Amorim foi pessoalmente se encontrar com Nicolás Maduro em Caracas. Esses gestos, porém, foram atenuados recentemente, num sinal de que Lula busca calibrar suas amizades com mais pragmatismo. O Brasil fez declarações mostrando preocupação com os direitos humanos na Venezuela e aceitou receber imigrados que perderam a cidadania na Nicarágua. Vieira reforça que Amorim também visitou opositores de Maduro na Venezuela. Outro teste para a diplomacia de Lula são as negociações envolvendo o Mercosul. O Uruguai ensaia romper cláusulas do bloco para negociar um acordo de livre comércio justamente com a China. O Brasil deseja que Luis Lacalle Pou cerre fileiras com os vizinhos para forçar melhores condições no acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. A adesão à OCDE, que avançou no governo Bolsonaro, também incomoda os petistas da velha guarda e servirá de termômetro para o Itamaraty lulista.

AFINIDADE Lula com Alberto Fernández e Evo Morales, ex-presidente da Bolívia, em janeiro, na Argentina. Ao lado, Celso Amorim na Venezuela com Nicolás Maduro, dia 8 de março (Crédito:ESTEBAN COLLAZO/Marcelo Garcia/Miraflores Palace/)
Marcelo Garcia/Miraflores Palace

Problemas internos

Além do símbolo de força e renascimento diplomático, o presidente também transformou a viagem à China em uma oportunidade para resolver problemas internos. Nesse caso, o recado está no próprio tamanho da comitiva. O petista quer passar uma mensagem clara com a participação de parlamentares de oposição, da base e dos que se dizem independentes. Segundo os aliados do presidente no Congresso, o objetivo é “mostrar ao mundo sua força política, econômica e acima de tudo democrática”. O recado é: “Sou o presidente do Brasil e não o presidente do PT, tenho que representar os interesses do País”. Além disso, o mandatário deve tentar sondar com senadores a questão de possíveis indicados para o STF e a chefia da PGR. Mas o risco é o petista embarcar a crise na bagagem. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, irá, mas Arthur Lira, presidente da Câmara, cancelou a viagem. Oficialmente, a sua assessoria diz que ele nunca disse que iria à China. Deve ficar para enfrentar a disputa com o Senado pelo trâmite das Medidas Provisórias (acha que o Planalto está ajudando Pacheco), além de continuar as tratativas em torno do novo arcabouço fiscal de Fernando Haddad. Lula disse que a definição e apresentação da proposta ficará para depois da viagem, mas certamente o assunto também será tratado em solo chinês (Haddad e Aloizio Mercadante estarão presentes). Em Xangai, Lula visitará a sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco dos Brics. Estará acompanhado de Dilma Rousseff, que tomará posse na presidência da instituição. Na volta, o presidente ainda passará por Abu Dhabi, onde vai encontrar, dia 31, com o xeique Mohammed bin Zayed, emir de Abu Dhabi e presidente dos Emirados Árabes Unidos. Na pauta, relações bilaterais, comércio e investimentos. O brasileiro espera voltar a Brasília com menos complicações domésticas e um triunfo externo que feche com chave de ouro os primeiros cem dias de mandato, que vai celebrar no dia 10.

Colaborou Victor Fuzeira

“A visita à China completa um ciclo importante no exterior”

O chanceler Mauro Vieira quer recolocar o Brasil no primeiro time da diplomacia mundial e afirma que o Brasil defende os direitos humanos na Nicarágua

O presidente e o sr. vão liderar uma megacomitiva à China com 200 empresários e 34 políticos. O Brasil está se aproximando mais da China do que dos EUA na nova guerra fria entre as duas potências?
O presidente se encontrará com Xi Jinping, com o primeiro-ministro Li Qiang e o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji. Abrirá um seminário empresarial, e em Xangai também se encontrará com empresários. Lá terá um evento relacionado ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como “banco dos Brics”. Há uma grande expectativa de empresários brasileiros. A China é o maior parceiro comercial do Brasil, temos um superávit importante. Há grandes expectativas de expansão desse comércio, que é basicamente de commodities e produtos alimentícios, mas há outras perspectivas. Serão assinados muitos acordos ou memorandos de entendimentos e declarações de intenções em várias áreas, como desenvolvimento científico e tecnológico e a cooperação com satélites, que começou em 1986, no governo Sarney. Esse acordo vai ser renovado. Já foram lançados cinco satélites com base no antigo acordo. Agora, haverá uma nova geração. Os satélites de observação da terra terão imagens ao vivo. Antes, era com imagens de fotografia congeladas. Ainda há educação, ciências médicas, vacinas etc. E há um enorme número de empresários interessados porque a China é um pais com crescimento imenso, com PIB enorme, grande mercado consumidor e fundos de investimento. O presidente vai se fazer acompanhar por essa delegação que está sendo organizada há mais de um mês. Há ainda uma comitiva de políticos, ministros que estão envolvidos nos acordos, três governadores que já têm relação importante. A viagem completa um ciclo importante das visitas presidenciais ao exterior. Nos primeiros três meses, o presidente visitou os três parceiros do Mercosul — Argentina, Uruguai e Paraguai —, depois EUA, com Joe Biden, e agora China. É um plano dos primeiros dias, dos primeiros três meses que o presidente me encomendou.
O governo Bolsonaro criou problemas com vários países, inclusive com a China. Como é o trabalho de desfazer esse mal-estar?
O governo anterior acabou. Agora, é o novo governo. A prioridade é retomar as relações com todos os países. Se o Brasil deixou de ter diálogo é problema dos outros governantes, não do presidente Lula. Ele me deu instruções para que restabelecesse os canais e reconstruísse as pontes que foram destruídas.

O governo vai privilegiar a China em detrimento dos EUA? A comitiva é bem mais robusta do que a última viagem do presidente aos EUA.
Não há nenhuma dificuldade. O Brasil tem relações tradicionais e sólidas tanto com o EUA como com a China. Não há nenhum problema em ter relações com as duas nações. O que guia é o interesse nacional. Nos EUA, a visita foi só de um dia porque ela também foi estabelecida com um prazo um pouco menor. O presidente Biden tinha convidado o presidente Lula para ir antes da posse, mas não foi possível fazer essa viagem na ocasião. A visita aos EUA não foi acompanhada de uma missão empresarial, as relações com os EUA completam 200 anos no ano que vem, são tradicionais e antigas, há câmaras bilaterais em quase todos os estados, relações consolidadas. Com a China, a relação cresceu exponencialmente nos últimos anos e atrai muito a atenção. Na China haverá o segmento empresarial que não aconteceu nos EUA, porque foi uma viagem de cunho político.

Como está a iniciativa de liderar um clube de países para discutir um acordo de paz na Ucrânia?
O presidente diz que se fala muito de guerra e pouco de paz. Ele gostaria de ouvir mais conversas sobre paz. Disse que está disposto a fazer o que estiver ao seu alcance, com outros países, para promover um espaço de conversa que leve à paz. Mas não apresentou uma proposta completa. Fez um chamamento a que as partes envolvidas, com o apoio de países que tenham dialogo com os dois lados, promovam um encontro de algum tipo que possa abrir espaço para um projeto de paz.

“O Brasil condenou a situação dos direitos humanos na Nicarágua. A situação interna da Venezuela está mostrando alguns sinais de melhora”

Os Brics podem ser úteis nesse sentido?
Os Brics são um grupo informal, sem secretariado estabelecido, sem um acordo constitutivo. São países que se reúnem há vários anos, um espaço de concertação política muito importante. São cinco grandes nações em desenvolvimento que somadas têm um peso muito grande no mundo. É um lugar em que os chefes de Estado, por serem poucos, têm conversas muito claras e francas. Ele pode gerar algum tipo de declaração de apoio para que tenha algum espaço de negociação. Não vejo que os Brics sejam o fórum de se negociar. Um forum de apoio à discussão pela paz.

O Brasil evitou condenar o regime de Daniel Ortega na ONU, mas depois externou preocupação com “violações de direitos humanos”. Há pouco aceitou abrigar os imigrantes que desejarem sair do país. Agora a embaixadora nicaraguense no Brasil, Lorena del Carmen Martínez, foi chamada de volta. O governo deseja influenciar o governo de Ortega pela volta da democracia?
No atual governo Lula, desde janeiro o Brasil condenou a situação dos direitos humanos na Nicarágua. Só houve uma manifestação porque estávamos esperando pela reunião do Conselho de Direitos Humanos, que é o fórum adequado para avaliar essas questões. Houve essa reunião em que o Brasil do presidente Lula não deixou de condenar. Apenas não seguimos uma resolução de um grupo de países porque queríamos primeiro mostrar independentemente a nossa posição. Em segundo lugar, a resolução acenava com sanções que é algo que nós não aceitamos e não podemos aceitar, a menos que sejam aprovadas no Conselho de Segurança da ONU. Quanto à partida da embaixadora da Nicarágua, é algo absolutamente normal. Ela ficou um período longo de dez anos. Não tem absolutamente nada a ver com qualquer tipo de posição ou estranhamento entre os países. Foi uma decisão administrativa do Ministério das Relações Exteriores nicaraguense.

O presidente Lula tem sido criticado por se aproximar de regimes antidemocráticos como a Venezuela. Como o Brasil vê a situação dos direitos humanos na Venezuela? A relação diplomática com o país vai voltar ao que era antes?
Já voltou. Já enviamos funcionários diplomáticos, um encarregado de negócios para abrir a Embaixada e os quatro Consulados que foram fechados no governo anterior. É um pais que tem 2 mil quilômetros de fronteira com o Brasil e onde vivem 25 mil brasileiros. Não se podia fazer isso por questões ideológicas. Isso é abandonar os cidadãos brasileiros que estavam lá. Nós vamos voltar a falar com eles porque, independentemente da posição dos países, nós falamos com todos. A situação interna da Venezuela está mostrando alguns sinais de melhora. O presidente Lula mandou uma emissário para conversar com o governo, o ex-ministro Celso Amorim, assessor especial do presidente, que esteve com todas as autoridades, inclusive da oposição, para fazer um levantamento da situação. Ele trouxe os resultados ao presidente.

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Fonte istoe
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