Estado do Rio fecha três hospitais de campanha que nunca funcionaram

Milhões de reais gastos à toa, um ex-secretário de Saúde do Estado preso e o governador Wilson Witzel sob investigação. Assim é o combate do governo fluminense ao coronavírus

“Fiquem em casa pelo amor de Deus”, disse Wilson Witzel em entrevista à Globo News. Claro, até porque, se os cariocas fossem a um dos hospitais de campanha do governo Witzel, que sequer chegaram a abrir as portas, não seriam atendidos mesmo.

Ainda nessa entrevista, concedida em abril, quando teve teste positivo para coronavírus, o governador desabafou sobre sua condição: “Eu passei muito mal, muita febre, meu pulmão foi contaminado. É uma situação que não quero que ninguém passe, você não sabe se vai sobreviver, deixa sequelas psicológicas.”

Se a doença deixa sequelas psicológicas em quem pode contar com uma excelente estrutura de atendimento – como é o caso do Copa D’Or, em Copacabana, onde Witzel foi atendido – imagine as sequelas de quem precisou dos hospitais de campanha que nunca chegaram a funcionar…

Porém, em um vídeo que o próprio governador divulgou em suas redes sociais, as declarações foram diferentes: “Eu fiz uma tomografia e os meus pulmões não foram atingidos. O contágio foi pequeno, mas mesmo assim, tive muita febre, tenho passado a noite acordando com essa tosse.”

Mais confusas do que as afirmações foram as ações do governo fluminense, pois a promessa era construir sete hospitais de campanha durante a pandemia, ao custo de R$ 770 milhões. Apenas dois foram abertos ao público e três, apesar de erguidos, não chegaram a ser inaugurados. O atual secretário de Saúde, Alex Bousquet, limitou-se a afirmar na última segunda-feira (27) que “há uma forte tendência de, nos próximos dias, anunciarmos o fechamento dessas unidades. O planejamento prévio já previa o início, meio e fim da necessidade dessas unidades de apoio.”

Um hospital de campanha, por definição, é uma unidade móvel temporária contruída em locais estratégicos que, depois de prestar seus serviços, é desmontada. Portanto, dizer que era previsto que havia um planejamento de início, meio e fim é chover no molhado. O problema aqui é que o “meio” não existiu. Os hospitais foram erguidos e agora serão desmontados a um custo gigantesco, sem nunca terem atendido um paciente sequer. Segundo a Agência Brasil, se o Estado do Rio de Janeiro fosse um país, seria o 13º em número acumulado de mortes por covid-19 desde março.

Enquanto isso, o governador expõe toda sua preocupação: “Não podemos permitir que médicos tenham que decidir quem vive e quem morre, isso é algo que não quero carregar nas minhas costas.” Seria para poupar os médicos – e suas próprias costas – dessa difícil escolha que o governo nem chegou a inaugurar os hospitais? Genial, não é mesmo? Assim, a difícil decisão ficou nas costas da “natureza” ou, quem sabe, da sorte.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record

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Fonte r7
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