8 fatos para entender a Revolução Cubana e seus desdobramentos

Principal evento que consolidou o país latino-americano como uma nação socialista completa 60 anos. Entenda os movimentos que levaram Cuba a nacionalizar empresas

O dia 6 de agosto de 1960 marcou o início de um caminho sem volta na consolidação de Cuba como uma nação socialista. Na data, o governo revolucionário, sob comando do presidente Osvaldo Torrado e do primeiro-ministro Fidel Castro, anunciou a Resolução Conjunta nº 1, nacionalizando 26 empresas americanas instaladas em solo cubano. Eram plantações de açúcar, minas e refinarias de petróleo que tinham um valor de mercado, à época, de US$ 1,7 bilhões (14,8 bilhões em 2020, ajustado à inflação).

Antes disso, a relação entre os dois países já estava em declínio. Embora os Estados Unidos tivessem reconhecido o novo governo, havia desconfiança se Cuba se alinharia aos interesses da União Soviética — Fidel Castro só assumiu essa posição oficialmente em 1961. À Resolução nº1, sucederam-se outras duas, que terminaram de nacionalizar as propriedades americanas restantes: bancos, hotéis, cassinos, bares e outras empresas.

Com isso, as desconfianças mundiais se desvaneceram: Cuba era, sim, um país socialista. Em resposta às expropriações, o governo americano promoveu o mais longo embargo comercial imposto a um país na história moderna, que dura até os dias de hoje. E, desde 1959, Cuba ainda vive o legado da revolução de destituiu Fulgêncio Batista e instalou um governo socialista a menos de 200 quilômetros da maior potência capitalista do mundo. Para entender mais esse contexto, conheça 8 momentos marcantes da Revolução Cubana:

Cenário pré-revolução
Em 1899, como consequência da Guerra Hispano-Americana, o controle de Cuba passou da Espanha para os Estados Unidos. Uma administração militar serviu de transição para a independência formal, em 1902, depois de aprovada uma constituição que impunha uma série de condições que deixava Cuba de certa forma ainda dependente dos EUA. Nas décadas seguintes, o país viveu um período de altos e baixos entre prosperidade e crise política, com diversas intervenções americanas. Nesse ínterim, surgiu um líder: Fulgêncio Batista. Ex-soldado, foi eleito presidente entre 1940 e 1944, governando de forma relativamente progressista. Voltou ao cargo em 1952, desta vez através de um golpe militar.

O movimento
Um dos candidatos ao Congresso nas eleições de 1952 invalidadas pelo golpe militar era o jovem advogado Fidel Castro, que rapidamente percebeu o caráter ditatorial de Batista. Percebendo que Batista não sairia do poder por vias legais, Fidel e seu irmão, Raúl, decidiram formar um grupo paramilitar denominado de “O Movimento”, que no primeiro ano conseguiu recrutar 1,2 mil voluntários da classe trabalhadora de Havana.

Fidel Castro é detido após ataque ao Quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, 1953 (Foto: Wikimedia Commons)

Primeiro ataque
O marco inicial da Revolução Cubana foi o ataque ao Quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, em 26 de julho de 1953. Liderando 165 guerrilheiros, Fidel buscava acender a revolta entre a população para depor Fulgêncio Batista. Mas o ataque falhou, com grande parte dos guerrilheiros sendo capturados e posteriormente mortos. Fidel e Raúl foram detidos e condenados a 15 e 13 anos de prisão. Foi nesse julgamento que Fidel falou uma de suas frases mais famosas: “A história irá me absolver.”

Exílio no México
Cedendo a pressões e acreditando que seria uma propaganda positiva, Fulgêncio Batista decidiu anistiar os opositores presos em 1955, libertando também Fidel e Raúl. Livres, os irmãos Castro se exilaram no México, de onde, com outros dissidentes, organizaram uma nova força revolucionária. Lá, conheceram o argentino Ernesto “Che” Guevara e receberam treinamento de Alberto Bayo, que participou da Guerra Civil Espanhola. Estava formado o Movimento 26 de julho, em alusão ao primeiro ataque contra o governo Batista.

Desembarque do Granma
O Movimento 26 de julho atravessou o Mar do Caribe e desembarcou em Cuba no dia 25 de novembro de 1956. Com capacidade para no máximo 25 passageiros, o iate Granma (que anos depois se tornaria o nome do jornal oficial do novo governo) transportou 81 homens, incluindo os Castro e Che Guevara. Em terra, foram rapidamente suprimidos pelas forças de Batista, que conseguiram dizimar a maior parte dos guerrilheiros. Os cerca de 20 sobreviventes se refugiaram na selva de Sierra Maestra, dando início a uma guerrilha.

Ponto de desequilíbrio
A repressão de Batista começou a se fragilizar em 1957, diante de atentados urbanos e no interior. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos perceberam que os revolucionários poderiam vencer no futuro e chegaram a ajudar financeiramente o Movimento 26 de Julho, contribuindo para pender a balança a favor dos revolucionários. Um dos golpes do movimento mais decisivos foi dado pela gestão do presidente dos EUA Eisenhower, que diante dos danos às propriedades americanas em solo cubano, impôs um embargo ao fornecimento de armas ao governo de Fulgêncio Batista, enfraquecendo de vez seu poder de fogo.

Fulgêncio Batista discursa em Cuba nos anos 1950 (Foto: Wikimedia Commons)

A queda de Batista
Sem poder de fogo e incapaz de sufocar os guerrilheiros em Sierra Maestra, Batista tentou uma saída pelas urnas. Manteve as eleições de 1958, intervindo para que seu candidato fosse vitorioso. Isso incendiou ainda mais as forças rebeldes, que passaram a tomar a iniciativa nos confrontos. A ofensiva culminou na batalha final da revolução cubana, com a queda da cidade de Santa Clara em 31 de dezembro de 1958. Ao perceber que sua situação era insustentável, Batista fugiu no dia seguinte para a República Dominicana, dando lugar a um novo governo revolucionário em Cuba.

Desdobramentos
Inicialmente, o governo cubano evitou se autodenominar socialista, ainda que tivesse deixado isso implícito ao intensificar o relacionamento com a União Soviética, com a compra de armas e exportação de açúcar (embargadas pelos Estados Unidos). A admissão veio em 1961, após a tentativa fracassada americana de invasão à Baía dos Porcos, quando Fidel Castro debochou: “O que os imperialistas não conseguem perdoar é que fizemos uma revolução socialista debaixo de seus narizes”. Cuba foi também a ponta de lança da União Soviética durante a Guerra Fria. O ponto mais crítico do período foi durante a Crise dos Mísseis, em 1962, quando os soviéticos tentaram alocar mísseis balísticos nucleares em Cuba. Foi o momento em que a humanidade chegou mais perto de vivenciar uma guerra nuclear.

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Fonte revistagalileu
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