‘A bebida te arrebentou’, disse Del Nero a Caboclo após afastamento

Troca de mensagens aponta que rompimento dos dois aconteceu paralelamente ao afastamento; diálogos foram obtidos pela CNN com exclusividade

Uma troca de mensagens entre Marco Polo Del Nero, ex-mandatário da CBF, e o presidente afastado, Rogério Caboclo, expõe ainda mais a crise instalada na entidade e o racha entre os dois velhos amigos. O diálogo entre os dirigentes que já comandaram o futebol brasileiro foi obtido com exclusividade pela equipe da CNN.

Em um trecho da conversa, Del Nero atribuiu ao problema com o álcool enfrentado por Caboclo as polêmicas durante o seu mandato à frente da CBF. “Rogério. Você bebia. Mas beber, muitos líderes bebem ou beberam, mas nunca no serviço. E você passou a beber, e esse comportamento etílico lhe arrebentou. Fez coisas erradas nas relações humanas ao humilhar todos os mais simples e bajular os poderosos, além dos desmandos. Um ser humano não pode humilhar ninguém. Um líder nunca. A bebida te arrebentou e causou esse transtorno”, disse Del Nero em uma das mensagens enviadas ao sucessor pelo WhatsApp no dia 13 de junho. Uma semana antes, Caboclo era afastado pela Comissão de Ética do Futebol Brasileiro.

A decisão de afastar o presidente da CBF do cargo foi tomada depois da abertura de um processo para investigar denúncias de assédio moral e sexual contra Caboclo feitas por uma funcionária que trabalha na entidade. Hoje ela está afastada após alegar problemas de saúde.

Rogério Caboclo respondeu sobre as mensagens em uma nota enviada à CNN. O posicionamento pessoal dele diz que se trata de “uma mensagem unilateral, agressiva e oportunista de Marco Polo Del Nero, que estava ciente de que não obteria do presidente da CBF mais nenhum tipo de resposta em razão da completa ruptura com o banido dirigente”. Caboclo refere-se ao banimento sofrido por Del Nero pela Fifa, que por acusações de corrupção determinou que ele não mais poderia exercer cargos no comando do futebol.

Na nota enviada à CNN, o presidente afastado da CBF ainda afirma que “nunca fez uso de álcool durante o expediente de trabalho e nunca tratou do assunto com Del Nero”.

Em outro trecho das mensagens, Del Nero diz que o presidente afastado “não reconhece seu estado doentio” e precisa de uma internação para o tratamento da dependência alcoólica. “Você não reconhece seu estado e acabou por destruir tudo que estava próximo e ao seu poder. Você deixou de ser justo e virou ímpio. Não vou comentar teus erros, que teus amigos lhe avisavam, no intuito de procurar que você se corrigisse, nunca reconhecidos por você. Reitero o que lhe dizia: se interne, se cure, pois ainda é tempo de recuperar o físico e a alma. Gostaria muito de falar com você desde que esteja em tratamento e curado, antes não vale a pena, pois você não reconhece seu estado doentio”, afirma o antecessor a Caboclo.

Caboclo diz que Del Nero joga “para a plateia se aproveitando de um conteúdo degradante que poderia ser usado publicamente, pois seria completamente ignorado pelo presidente da CBF, como, de fato, foi”.

Dois dias antes da denúncia de assédio moral e sexual ser protocolada pela funcionária na Comissão de Ética da CBF, Marco Polo Del Nero informa Caboclo que um dos auditores do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD) estava no Rio de Janeiro e desejava conhecer a CBF e “dar um abraço” em Caboclo. Duas horas depois do recado, o presidente afastado diz “estou na Granja”, referindo-se à Granja Comary, em Teresópolis, onde fica o Centro de Treinamento da Seleção Brasileira de Futebol.

Três semanas antes do diálogo, em 12 de maio, Caboclo é quem procura Del Nero. “Pode falar?”, questiona. A mensagem foi enviada às 00:15. Na noite do mesmo dia, pouco antes das 20:00, o antecessor diz ao então presidente “21:30 ele estará na sua casa”. Os diálogos não detalham quem seria essa pessoa, mas mostram a proximidade dos dois.

Na manifestação enviada à CNN, Caboclo diz “conviveu com Del Nero por quase 20 anos” e “quem tem um rótulo negativo, definitivo e comprovado é o próprio Del Nero, a quem muitas pessoas e veículos de imprensa atribuem atividades desabonadoras e até criminosas”. Diz ainda que “diferentemente da lamentável prática do banido presidente, Rogério Caboclo afirma que tem procurado manter sigilo de deprimentes e incriminadores trechos de mensagens por ele recebidos”.

A reportagem tentou contato com o ex-presidente da CBF Marco Polo Del Nero, mas até agora não conseguiu. Além da Comissão de Ética, o nome de Rogério Caboclo também aparece em uma investigação do Ministério Público do Trabalho aberta após as denúncias de assédio supostamente praticado por ele a funcionários da entidade. Ele nega que tenha tido práticas ilegais ou abusivas.

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Fonte cnnbrasil
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