O que estas mulheres trans querem que você saiba sobre feminismo e igualdade

“Quando a igualdade for a norma para todas as mulheres, trans ou cis, o movimento de mulheres será perfeito.”

Se você é como eu, seu Instagram e seu Twitter estão cheios de hashtags sobre poder das meninas, frases motivacionais de mulheres históricas e muito, muito cor-de-rosa. Mas quantas mulheres trans ou negras foram incluídas nessas postagens?

É claro que não se trata só de uma questão das redes sociais. As mulheres trans vêm sendo historicamente excluídas das celebrações feministas e dos movimentos pelos direitos das mulheres. A transfobia é avassaladora nas leis e na vida cotidiana dos Estados Unidos.

As mulheres trans, especialmente as negras, estão entre as mais vulneráveis a discriminaçãoviolência e privação em todo o mundo. Mas elas continuam a defender seus direitos e a lutar pela igualdade para todas as mulheres e para a comunidade LGBT. É hora de elevar as vozes delas.

Abaixo 4 mulheres trans norte-americanas contam, com suas próprias palavras, o que esperam que lembremos em termos de liberdade e igualdade, tanto agora como no futuro. Como diz a ativista adolescente Jazz Jennings, o movimento perfeito exige igualdade. Para todas as mulheres.

Jazz Jennings, 18

Estrela de “I Am Jazz”, personalidade do YouTube e ativista

O tema do “Mês da Mulher”, neste ano, se concentrou em defender a paz e a não-violência, mas acho importante lembrar a força do discurso e da comunicação. O simples ato de ouvir pode levar a mudanças importantes na sociedade. Ouvir gera conhecimento, e conhecimento é poder.

Ser seu eu autêntico em um mundo que não abraça plenamente sua identidade única é um ato de coragem, de desafio, algo lindo. Recebo ameaças de morte o tempo todo. Quase todas são online, mas mesmo assim sinto medo.

Mulheres trans, especificamente as de negras, são assassinadas simplesmente porque vivem como seus “eus autênticos”. Fui banida de banheiros e equipes esportivas, sofri bullying, fui assediada e socialmente alienada. É terrível viver numa sociedade que diz que você é “inferior”, “doente mental” ou que sua identidade é inválida só porque você se identifica de uma certa maneira.

O mundo está melhorando, e mais pessoas estão entendendo o constructo dos gêneros binários, mas ainda temos muito a avançar.

Em vez de usar uma definição para me descrever, simplesmente gosto de dizer que sou Jazz. Não existem duas mulheres iguais. A identidade de gênero não é definida pela biologia, e fazer esse tipo de distinção é limitante. Acho que muita gente despreza as mulheres trans quando fala de feminismo porque não as considera como mulheres “de verdade”.

Há muitos mitos a derrubar, mas um dos mais importantes é o que diz que pessoas trans são assim “por escolha”. O mundo está melhorando, e mais pessoas estão entendendo a construção dos gêneros binários, mas ainda temos muito a avançar.

O movimento das mulheres será perfeito quando houver igualdade. Estamos todas lutando contra todos os tipos de sexismo e marginalização. Quando a igualdade for a norma para todas as mulheres, trans ou cis, o movimento das mulheres será perfeito. Quero que todas as mulheres se sintam empoderadas para se amar incondicionalmente e para compartilhar esse amor com o mundo à sua volta.

Aria Sa’id, 29

Diretora executiva e co-fundadora do Compton’s Transgender Cultural District e da Kween Culture Initiative

Simone de Beauvoir descreveu a condição feminina da seguinte maneira: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. Acho que “mulher” é uma demonstração de força, resiliência e manifestação de ser uma pessoa feminina, mais que o reflexo do sexo determinado no nascimento. Mas o mundo segue roubando o valor e atacando nossa feminilidade, nossa autenticidade.

Existe um mito de que as mulheres trans têm resquícios do privilégio masculino, e isso perpetua o silêncio imposto às trans. Se os movimentos femininos deixarem de diferenciar mulheres de negras e mulheres de jornadas diferentes, poderíamos ser mais livres do que imaginamos.

Unidas, jamais seremos vencidas.

Nossa disparidade é real. Assim como nossa alegria. E nossa resiliência. E nossa força. E nossa beleza.

Espero que o mundo possa reconhecer as contribuições incríveis das mulheres trans e cis para que desfrutemos das liberdades que temos hoje. Especialmente as contribuições das negras cisgênero, das muçulmanas e das trans.

Existe muita profundidade na produção cultural das mulheres negras e trans e espero que o mundo um dia reconheça isso. Nossa disparidade é real. Assim como nossa alegria. E nossa resiliência. E nossa força. E nossa beleza. E são esses atributos que nos moldam e que influenciam o mundo. Criamos linguagem. Criamos a cultura de beleza e salão de dança que você vê hoje.

Fico extremamente feliz quando ouço história de mulheres trans mais velhas, que conhecem uma era e um mundo diferente do nosso. Algo mágico acontece quando estamos juntas. Me sinto linda sendo abraçada, vista e respeitada. Somos as pessoas mais lindas do mundo. Somos poderosas. Nossos corpos são políticos e radiantes. Conhecer-nos é uma experiência.

Brynn Tannehill, 44

Analista militar e autora

O trans é lindo porque ainda é tão transgressor. Desafia o patriarcado e as normas de gênero com tanta força. [Mas] a direita religiosa e até mesmo algumas feministas radicais trans-excludentes se uniram para fazer oposição a proteções legais para as mulheres se essas proteções incluírem mulheres trans.

Ocupo o espaço privilegiado de mulher branca de classe média. [Mas], desde a entrada em vigor da proibição de trans nas Forças Armadas nos Estados Unidos, não posso me dedicar à carreira que amo. Fui roubada da minha dignidade e da minha honra. Na maioria dos dias, me sinto derrotada e sem esperanças, num mar de ódio, ignorância e intolerância, contra o qual sou pequena demais para resistir.

A comemoração perfeita do Mês da História das Mulheres seria verdadeiramente interseccional. [Pessoas de cor]. Transgêneros. Imigrantes. Muçulmanos. Lésbicas. Bissexuais. Profissionais do sexo. Todos aqueles cujas vozes são abafadas ou excluídas teriam um lugar à mesa. Todos teriam o direito de se definir. Podemos ser poucos em número e fracos politicamente, mas representamos algo tremendamente poderoso.

Mais que tudo, gostaria que as pessoas seguissem a regra de ouro: trate os outros como você gostaria de ser tratado. Autodeterminação, autonomia sobre o corpo, expressão pessoal e identidade são direitos universais.

LaLa Zannell, 40

Ativista, empreendedora e mãe

Minha mãe me diz todos os dias como tem orgulho de mim. Estou sempre muito ocupada, tentando sobreviver, e esqueço de lembrar das coisas incríveis que fiz. Isso ajuda a lidar com esse mundo cruel e estar 100% em contato comigo mesma.

Me sinto mais bonita quando consigo ter um desses momentos. Foi uma longa e dolorosa jornada até poder estar aqui, sem sentir vergonha. Todos os dias, acordo em um mundo que me faz sentir deslocada. Quando sobrevivo até o fim do dia para contar minha história e respirar, sou grata.

A todas as mulheres ao redor do mundo: saibam sempre que vocês são o suficiente.

Reconhecer a história das mulheres trans não apaga o trabalho realizado pelas mulheres cis. Só mostra como estamos todas no caminho da liberação coletiva das mulheres e como deveríamos sentir orgulho do progresso que já conquistamos. É hora de derrubar os muros e reparar os traumas que o patriarcado e a misoginia causaram ao dividir as mulheres.

Quando alcançarmos um lugar de amor e abundância e criarmos espaço para todas as mulheres, aí estaremos todas realmente liberadas.

A todas as mulheres ao redor do mundo: saibam sempre que vocês são o suficiente. Se o mundo tenta te apagar ou diminuir seu valor, lembre que você vem de uma longa linhagem de deusas, rainhas e irmãs que brigaram para que nós possamos estar aqui hoje, ao lado de outras mulheres poderosas.

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.

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Fonte huffpost
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