LADY FRANCISCO (1940 – 2019)
A atriz Lady Francisco, que soma quatro décadas de papéis em novelas da Globo, morreu neste sábado (25/5) no Rio de Janeiro, aos 84 anos. Ela estava internada na UTI do Hospital Unimed Barra desde o início de abril após sofrer uma fratura do fêmur enquanto passeava com seus dois cachorros no Parque Guinle, região onde morava. Ela foi operada, mas seu estado de saúde se complicou, vindo a falecer após falência múltipla de órgãos.
Nascida Leyde Chuquer Volla Borelli de Bourboun em 1940, em Belo Horizonte, ela era filha de comerciantes bem-sucedidos, amigos de políticos importantes, e contava ter sofrido muito na adolescência por ser considerada mal-comportada, inclusive sendo submetida a choques elétricos por um psiquiatra, a pedido da própria família.
Antes de virar atriz, ela venceu diversos concursos de beleza, foi aeromoça e radialista. E marcou casamento – aos 20 anos – com um engenheiro, apenas para descobrir horas antes da cerimônia que ele tinha outra família. O casamento foi proibido, mas os dois se juntaram assim mesmo e tiveram dois filhos.
Ela inciou a trajetória artística em produções locais de rádio e TV. Sua estreia na televisão foi como garota-propaganda, anunciando produtos ao vivo na TV Itacolomi, de Belo Horizonte, no final dos anos 1960. Mas só foi deslanchar após se mudar para o Rio, o que levou ao fim de sua união.
Nessa época, seu pai havia perdido quase toda a fortuna no jogo e Lady Francisco não teve apoio algum para seguir a carreira. Chegou a ser assaltada, perdendo o dinheiro que tinha trazido para tentar a sorte no Rio, e precisou viver de favores para persistir em sua tentativa de conseguir trabalho, ao aparecer diariamente na porta da TV Tupi. Um dia, ela foi chamada para compor o júri do programa de Flávio Cavalcanti. Em seguida, conseguiu participação na novela “Jerônimo – O Herói do Sertão” (1972). E nunca mais parou.
A atriz acabou indo para a Globo em 1975, onde atingiu popularidade quase instantânea com dois papéis exuberantes: a ex-estrela de circo Elizabeth Pappalardo em “Cuca Legal” e Rose, a secretária gostosona de Carlão, personagem icônico de Francisco Cuoco em “Pecado Capital”.
A fama de “gostosa” também lhe rendeu inúmeros trabalhos no cinema durante o auge da era da pornochanchada. Para se ter ideia, no mesmo ano em que fez duas novelas, Lady Francisco apareceu em nada menos que seis filmes eróticos.
Embora sua filmografia transborde produções de títulos sugestivos – “Os Maniacos Eróticos” (1975), “Viúvas Precisam de Consolo” (1979), “O Verdadeiro Amante Sexual” (1985), “Sexo Selvagem dos Filhos da Noite” (1987) etc – , Lady Francisco também fez filmes “sérios”, como “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia” (1977), de Hector Babenco, grande marco do cinema brasileiro, e em especial “O Crime do Zé Bigorna” (1977), de Anselmo Duarte, que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Brasília.
Mas o grande foco de sua carreira foram mesmo as novelas. Ela participou de alguns dos maiores sucessos da história da rede Globo, entre eles “A Escrava Isaura” (1976), “Locomotivas” (1977), “O Pulo do Gato” (1978), “Marrom-Glacê” (1979), “Baila Comigo” (1981), “Louco Amor” (1983), “Barriga de Aluguel” (1990), “Explode Coração” (1995), “Alma Gêmea” (2005), “Duas Caras” (2007), “Cheias de Charme” (2012), “Totalmente Demais” (2015), até “Malhação: Vidas Brasileiras” (2018), seu último trabalho, em que interpretou a milionária Lorraine.
Seus papeis costumavam ter imenso apelo popular, como a ingênua manicure Gisela na novela “Louco Amor”, de Gilberto Braga, graças a facilidade com que interpretava mulheres despachadas, fogosas e divertidas, da juventude à maior idade.
Entretanto, a popularidade conquistada como símbolo sexual teve outro lado. Ela denunciou ter sido abusada sexualmente por um diretor de televisão, cujo nome jamais revelou. Também foi estuprada por quatro homens ao descer de um táxi na Barra da Tijuca. Um mês depois, descobriu que estava grávida e realizou um aborto.
Após a decepção de seu primeiro noivado, Lady Francisco nunca se casou. Amor, ela só teve mais um na vida, o dramaturgo Dias Gomes, após ele ficar viúvo da novelista Janete Clair.