Entregadores de aplicativo fazem greve no país; veja fotos e vídeos

Movimento #brequedosapps fez manifestações em São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte, Olinda e até em Buenos Aires, na Argentina

Nesta quarta-feira, 1º, entregadores de aplicativos promovem um greve nacional exigindo melhores condições de trabalho, medidas de proteção contra os risco de infecção pelo novo coronavírus e mais transparência na dinâmica de funcionamento dos serviços e das formas de remuneração.

A paralisação foi chamada por trabalhadores de empresas como Rappi, Loggi, iFood, Uber Eats e James. Os organizadores dizem que o movimento foi construído por meio da interlocução por grupos na internet, embora algumas entidades tenham se somado, como associações de entregadores, motofrentistas e o Sindimoto, sindicato da categoria.

Em São Paulo, os entregadores chegaram a fechar rapidamente a Avenida dos Bandeirantes, na Zona Sul. No final da manhã, parte dos manifestantes se concentrou na frente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e bloqueou uma das pistas da Rua da Consolação, na região central.

Um dos organizadores foi o entregador Paulo Lima, conhecido por Galo, que ficou conhecido nas redes sociais por criar o movimento dos Entregadores Antifascistas.

Por volta das 14h, a passeata chegou à Avenida Paulista, onde permaneceu por volta de 40 minutos. Em frente ao Masp, onde a aglomeração de motofretistas ocupou uma quadra inteira, lideranças do movimento discursaram de um carro de som. “Sem motoboy na rua o Brasil não anda. A gente é que leva os exames, a gente é que leva a pizza”, disse uma liderança.

Os manifestantes carregavam placas e cartazes enfatizando a importância de seu trabalho durante a pandemia do novo coronavírus. Muitos deles lembravam que garantiam às pessoas o privilégio de ficar em casa e receber seus produtos sem precisar sair à rua.

Em Pernambuco, um grupo também fez uma passeata no Centro de Convenções de Olinda. Em entrevista à agência Marco Zero, de Recife, uma das lideranças do movimento, a entregadora Pammela Lima, disse que se inspirou no movimento paulista para começar a mobilização em seu estado.

Há registros de paralisações também em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e até em Buenos Aires, na Argentina. Por conta da greve, os aplicativos estão fazendo entregas nesta quarta-feira de carro e de táxi.

Nas redes sociais, há grande mobilização para o movimento, batizado de #brequedosapps. Dois hasthags sobre o tema estavam nos dois primeiros lugares entre os assuntos mais comentados do Twitter no Brasil no começo da tarde.

Reivindicações

Os entregadores cobram o aumento das taxas mínimas recebidas por cada corrida e o valor mínimo por quilômetro. Atualmente, eles são remunerados por corrida e pela distância percorrida, e por isso esses dois indicadores acabam definindo o pagamento por cada entrega.

Os trabalhadores reclamam também dos baixos valores e da variação deles para baixo. Outra reivindicação é a mudança dos bloqueios dos trabalhadores, que consideram arbitrários. Eles criticam o fato de motoristas terem sua participação suspensa ou até mesmo cancelada a partir de critérios não claros e sem a possibilidade de apuração dos ocorridos e de direito de defesa dos envolvidos.

Tanto em relação à remuneração quanto aos bloqueios, os entregadores questionam a falta de transparência das plataformas, que não deixam claras as formas de cálculo dos pagamentos e os critérios utilizados para a suspensão das contas dos trabalhadores.

Reportagem de capa da Exame em abril mostrou que a procura por aplicativos de entrega explodiu com a pandemia. No iFood, o número de candidatos para trabalhar na plataforma dobrou em março. Foram 175.000 inscrições naquele mês, ante 85.000 inscrições em fevereiro. A Rappi também reportou um crescimento de três vezes na demanda pelo app na comparação entre março e janeiro. Já o Uber Eats teve crescimento de dez vezes na base de restaurantes desde o início da pandemia.

14 horas de jornada

Um estudo de sete pesquisadores, publicada na revista Trabalho e Desenvolvimento Humano e realizada neste ano, entrevistou entregadores de apps em 29 cidades durante a pandemia.

O trabalho mostrou que mais da metade (54%) trabalham entre nove e 14 horas por dia, índice que aumentou para 56,7% durante a pandemia. Entre os ouvidos, 51,9% relataram trabalhar todos os dias da semana.

Cerca de metade dos entrevistados (47,4%) recebia até R$ 2.080 por mês e 17,8% disseram ter rendimento de até R$ 1.040 por mês. A maioria dos participantes do levantamento (58,9%) afirmou ter tido queda da remuneração durante a pandemia.

Segundo os autores, houve um aumento do número de entregadores como alternativa de pessoas que perderam renda durante a pandemia, mas apesar do aumento de entregas, os valores de hora/trabalho ou bonificação caíram.

Do total, 57,7% declararam não ter recebido nenhum apoio das empresas durante a pandemia para mitigar riscos e 42,3% disseram ter tido algum tipo de auxílio, como equipamentos de proteção e orientações. Independentemente do apoio, 96% comentaram ter adotado algum tipo de medida de proteção, como uso de álcool em gel e máscaras.

O professor de comunicação social da UNiversidade do Vale dos Sinos (Unisinos) e coordenador do projeto Fairwork no Brasil, da Universidade de Oxford, Rafael Grohmann, diz que a análise dessas plataformas em outros países revelou que elas não cumprem requisitos básicos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para o trabalho decente: remuneração, condições de trabalho (inclusive saúde), contratos que reflitam a atividade, gestão dialogada e transparente e representação e liberdade de associação.

“As plataformas digitais de trabalho têm mecanismos de vigilância intensa e uma extração de dados dos trabalhadores com uma gestão algorítmica desse trabalho. Acaba virando uma caixa-preta, e o indivíduo acaba ganhando cada vez menos. Os entregadores estão desesperados, ou é isso ou não é nada”, comenta o pesquisador.

(Com Agência Brasil e Agência O Globo)

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