Caminhoneiros desmobilizam paralisação e Zé Trovão, principal liderança, é localizado no México

Manifestantes chegaram a bloquear estradas em 15 Estados diferentes, mas todas já estavam liberadas na tarde desta quinta-feira. Zé Trovão estava na Cidade do México e deve ser preso ainda nesta quinta

Depois de chegar a paralisar rodovias em 15 Estados brasileiros entre a noite de quarta-feira (8) e a manhã desta quinta (9), os caminhoneiros desmobilizaram os protestos que faziam a favor do Governo de Jair Bolsonaro. O recuo aconteceu após um pedido feito pelo próprio presidente Jair Bolsonaro via áudio, cuja veracidade precisou ser confirmada pelo Ministério da Infraestrutura. Nesta quinta, a principal liderança dos protestos, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como “Zé Trovão”, foi localizado num hotel na Cidade do México. Ele estava foragido há uma semana como alvo das investigações contra lideranças que ameaçam a democracia e deve ser preso. Em seu último boletim, divulgado em suas redes sociais às 14h30 (horário de Brasília), a pasta da Infraestrutura relatou que nenhum Estado registrava mais interdições em rodovias federais.

Os protestos dos caminhoneiros começaram nesta quarta, um dia depois dos atos insuflando a desobediência ao Supremo Tribunal, promovidos por todo o país pelo presidente Jair Bolsonaro. A princípio, não estava claro se o protesto era majoritariamente formado por motoristas autônomos ou encabeçado por empresas de transporte. “Está todo mundo unido, agronegócio, caminhoneiros autônomos, empresas transportadoras… O povo brasileiro está revoltado com as ações do STF. Em breve o Brasil inteiro vai parar”, garantiu ao EL PAÍS Ailton Gomes, representante da Associação dos Transportadores de Combustíveis e Derivados (Associtanque) do Rio de Janeiro. “O povo não aguenta mais 11 ministros decidindo o que o Brasil vai fazer ou deixar de fazer. O povo não suportou e está na guerra, né”, completou.

Outros líderes da classe ganharam destaque ao defenderem as pautas bolsonaristas, como ataques ao Supremo Tribunal Federal e ameaças à democracia. Entre eles o Zé Trovão, que ravou alguns vídeos pedindo o fechamento de todas as rodovias brasileiras . “Fechem tudo, não passa mais nada. Somente ambulância, oxigênio e remédio. Acabou, não passa mais nada”, afirmou ele em vídeo que circulou pelos whastsapp nesta quinta, 9. Ele era procurado pela Polícia Federal (PF) desde o dia 3 de setembro, depois que o ministro Alexandre de Moraes determinou sua prisão à pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) no inquérito das fake news. “Estão brincando com a democracia. Nós precisamos resolver os problemas do Brasil agora, nesta semana. Chegou a hora de mudarmos tudo de uma vez. É pra trancar tudo”, disse no início das manifestações. Ele foi localizado pela PF escondido num hotel da Cidade do México e deve ser preso ainda nesta quinta, para então ser transportado de volta ao Brasil.

Os caminhoneiros chegaram a fazer 110 pontos de bloqueio em rodovias de 14 Estados diferentes na noite desta quarta-feira. A situação só começou a mudar quando Bolsonaro gravou um áudio à categoria pedindo a desmobilização da greve: “Fala para os caminhoneiros aí, são nossos aliados, mas esses bloqueios atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres”, disse o presidente. A princípio, os bolsonaristas desconfiaram da origem do áudio, mas o mesmo teve a veracidade comprovada pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. “Pelo amor de Deus, presidente, não deixe seu povo ser oprimido”, chegou a gravar o Zé Trovão durante a madrugada. Na manhã desta quinta, os bloqueios estavam em estradas de 15 Estados, mas a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já afirmava que as ocorrências tinham diminuído em 10% em comparação com a noite anterior.

Às 11h de quinta, o Ministério informou que os bloqueios foram reduzidos para cinco Estados diferentes: Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Já às 14h30, as interdições foram zeradas pela PRF. Sobraram apenas o que a Polícia chama de “aglomerações” em Bahia, Mato Grosso, Pará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás, Maranhã, Rio de Janeiro e Tocantins..

Em São Paulo, onde fica uma das principais malhas rodoviárias do país, a PRF confirmou por volta das 9h da manhã que não havia mais bloqueios em rodovias federais. Por volta das 12h, a Polícia Militar do Estado informou que 18 manifestações em rodovias paulistas foram encerradas e não havia, naquele momento, nenhum bloqueio ou interrupção total na malha viária estadual. Já em Brasília, caminhoneiros acampados desde quarta-feira na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, entraram com um habeas corpus contra o Governo do Distrito Federal para que não sejam retirados ou presos. O pedido foi protocolado no Superior Tribunal de Justiça (STJ). No documento encaminhado ao sistema judiciário eles também pedem o impeachment dos ministros do Supremo Tribunal Federal, segundo informa o site Poder360.

O movimento não pareceu ter sido unanimidade entre caminhoneiros, e há fortes indícios de que empresas e transporte e do agronegócio estão por trás da paralisação. Caso isso se confirme, os atos poderiam ser entendidos como locaute —isto é, uma paralisação promovida por empregadores, algo proibido pelo artigo 17 da lei 7.783. Ainda nesta quarta, 8, segundo o colunista do UOL Chico Alves, o deputado Nereu Crispim (PSL-RS), presidente da Frente Parlamentar de Caminhoneiros e Celetistas, enviou um ofício ao diretor geral da Polícia Rodoviária Federal (DGPRF) para assegurar segurança de motoristas de caminhão que estão sendo atacados em rodovias. Os protestos também sofreram repúdios de entidades como o Sindicatos dos Transportadores Autônomos de Carga de Goiás (Sinditac) e Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Campinas e Região (Sindicamp).

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Fonte elpais
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