Ao lado de ‘irmã’ indígena, Bolsonaro nega discurso ofensivo na ONU

Resumo da notícia

  • Alinhada com discurso do presidente, Ysani Kalapalo diz que índios “querem desenvolvimento”
  • Presidente volta a dizer que supostos interesses estrangeiros na Amazônia estão por trás de política pró-demarcação de terras

Por Marcos Tordesilhas

Jair Bolsonaro apareceu acompanhado da indígena Ysani Kalapalo em sua live semanal nas redes sociais, nesta quinta-feira (26), em uma transmissão onde defendeu novamente que os indígenas querem explorar as áreas das reservas, que hoje são preservadas. O presidente também falou sobre sua primeira participação na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, na terça, e disse negou ter feito um discurso agressivo.

Bolsonaro iniciou a transmissão interagindo com a indígena Ysani Kalapalo, que o acompanhou durante a viagem à sede da ONU. Kalapalo, 27, apoia o presidente desde a campanha presidencial e ganhou notoriedade por postar vídeos no YouTube com discursos alinhados ao governo federal no que diz respeito à exploração de reservas e do desmatamento da Floresta Amazônica.

Assim como Bolsonaro, ela ataca a atuação de ONGs ambientalistas na região – chegou a se referir às organizações como “bando de filho da p…”, em entrevista ao portal brasiliense Metrópoles – e critica lideranças indígenas que têm discurso oposto ao seu, como o cacique Raoni, que foi apontado como por Bolsonaro na ONU como “peça de manobra” de governos estrangeiros.

Bolsonaro apontou para Kalapalo e sua tradutora de Libras, Elizângela Castelo, dizendo que elas são iguais. “São duas mulheres, dois seres humanos que são iguais. O que o índio quer no Brasil?”, falou Bolsonaro. A indígena respondeu: “Hoje o índio quer o progresso, o desenvolvimento, ajudar a fazer com que o Brasil cresça.”

Na sequência, Bolsonaro citou o discurso na ONU e pediu que Kalapalo comentasse sobre pessoas que ela interagiu na Assembleia-Geral. Ela respondeu que os não indígenas desconhecem a visão dos índios. “A maioria dos livrinhos de antropólogos e ambientalistas mostram o índio romantizado, lá do século passado”, criticou.

O presidente acrescentou que o indígena “quer uma vida como a nossa”. Depois, Bolsonaro reiterou seu discurso de que as queimadas na Amazônia estão abaixo da média nos últimos 15 anos e reclamou da “potencialização” das críticas internacionais sobre os incêndios.

“Por que um líder me chamou de mentiroso e disse que a soberania da região amazônica tinha que ser repensada? Porque mudou o governo. Nós estamos agindo de maneira diferente. Queremos os índios do nosso lado, somos irmãos. E não queremos aumentar, como querem, as terras indígenas. Não sou contra o indígena, mas tem que ter racionalidade para demarcar”, defendeu Bolsonaro.

“O pessoal lá de fora, em parte tem razão, porque estão de olho na Amazônia.”

Depois, ao ler manchetes de jornais brasileiros sobre seu discurso na ONU, ele negou ter sido agressivo. “Ofendi algum chefe de Estado? Quando citei Alemanha e França, foi porque eles usam mais de 50% de seus territórios para agricultura e o Brasil, 8%. O Brasil preserva 61% das suas terras”, completou. Segundo Bolsonaro, com seu discurso, o Brasil “rompeu a tradição de subserviência” aos outros países na Assembleia-Geral.

Já Ysani Kalapalo afirmou que gostou muito do discurso do presidente e disse que a “turminha vermelha que está criticando está acostumada a ouvir inverdades”. “E o senhor fala a verdade”, comentou a indígena.

Bolsonaro e Kalapalo também concordaram na hora de dizer que o cacique Raoni, líder indígena brasileiro de maior representatividade internacional, não representa a visão da classe. Bolsonaro afirmou que “abusaram da boa fé” do cacique Raoni, apesar de ressaltar que ele “é um cidadão que merece respeito”.

Ysani Kalapalo, na sequência, atacou lideranças indígenas do Alto Xingu (MT), onde fica sua aldeia, que a criticaram pela viagem à ONU e disseram que ela não representa os indígenas. “Vocês aí, parentes, seus hipócritas, que falam que eu não falo a verdade. Eu falo a verdade. Você acha que o Raoni vai representar mais de 300 etnias do Brasil? Respeito ele, mas não respeito a ideologia dele.”

Bolsonaro encerrou o assunto dizendo que alguns chefes de Estado “cooptaram o Raoni”, lembrando da solicitação de Emmanuel Macron por uma reunião entre os dois presidentes com o cacique Raoni sobre a Amazônia, em julho, antes do início da crise das queimadas.

“Eu falei para ele: respeito o Raoni, mas não precisa não. O presidente sou eu. Tem que conversar comigo. Ali o senhor Macron começou a ficar preocupado conosco. Mudou o governo. Não é um governo de briga, mas não é um governo de dizer amém a todo mundo.”

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Fonte yahoo
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