Especialistas avaliam explosão em Beirute: ‘onda de choque e calor é nítida’

Segundo militares, carga de 1 tonelada de dinamite não teria efeito semelhante ao visto, com efeito 'varredura' de devastação ao longo da área atingida pela explosão. Bombeiro entende que fator externo pode ter deflagrado explosão devido à onda de choque causada e vista em imagens.

As causas da imensa explosão que atingiu Beirute, no Líbano, nesta terça-feira (4), ainda são desconhecidas, mas o seu tamanho e a poderosa onda de choque que ela lançou por quilômetros chamou a atenção de especialistas ouvidos pelo G1.

Imagens divulgadas nas redes sociais mostram uma nuvem de fumaça em um galpão próximo ao porto, sendo sucedida de pequenos estopins e “pipocos”, com flashes de luzes e estrondos localizados.

Em seguida, há uma grande detonação, com a formação de um “cogumelo gigante” de calor, que provocou a destruição de imóveis próximos ao local. Os vídeos mostram um efeito “varredura”, com uma devastação ao longo da área atingida pela explosão, com a destruição de imóveis em larga escala e por quilômetros de distância. Pessoas foram jogadas ao mar e carros virados de ponta cabeça.

Militares especialistas em explosivos e produtos químicos, além de historiadores que acompanham a situação no Oriente Médio, ouvidos pelo G1, notam que, se a grande explosão vista na região portuária de Beirute, no Líbano, nesta terça-feira (4), fosse deflagrada por produtos químicos, haveria imediatamente um processo de retirada dos moradores da área, devido ao risco de contaminação e maiores complicações.

Segundo um instrutor em armamento da Polícia Militar de São Paulo, que já realizou treinamentos internacionais em explosivos, nem a detonação de uma tonelada de dinamite provocaria efeito semelhante ao visto no Líbano.

Ao ver as imagens da detonação, o major Marcos Palumbo, porta-voz do Corpo de Bombeiros de São Paulo, assinalou que apenas um fator externo provocaria uma detonação instantânea de todo o local, como mostra o vídeo, causando uma grande “onda de choque”.

“A enorme onda de choque e de calor causada pela explosão em toda a área, de forma instantânea em toda a extensão do terreno, é algo nítido ao ver as imagens. Foi algo muito forte que tinha ali ou em enorme quantidade. É como se tivesse sido deflagrado por algo externo, como uma bomba, em um local com grande quantidade de explosivos. Se fosse um incêndio, que começa onde há contato com o oxigênio, ele não seria de forma repentina como o visto”, avalia Palumbo.

“A onda de choque positiva é impressionante. O fator de sobrepressão deve ter causado lesões pulmonares em muitas pessoas“, disse outro militar especialista que atua na área de munições e equipamentos militares.

Dezenas de mortos e mais de 2 mil feridos já foram confirmados pelas autoridades locais. Parte foi levada a hospitais, mas ainda há muita gente presa em escombros dentro de suas casas. Barcos estão resgatando pessoas que foram jogadas ao mar.

“O fato não é o que explodiu, mas a quantidade, a magnitude da explosão”, disse um militar das Forças Armadas especialista em explosivos, sob a condição de anonimato.

Para o especialista em Oriente Médio Gunther Rudzit, a retirada da população e o isolamento do local seria a consequência lógica se a explosão tivesse sido provocada por um acidente.

Por isso, Rudzit, que é coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios em Oriente Médio da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), entende que, por enquanto, não se poderia excluir a possibilidade de a detonação ter sido derivada de alguma forma de ataque aéreo pontual, por exemplo, a um depósito de armas do Hezbollah. Até o momento, não há informações oficiais nesse sentido.

“Até onde eu saiba, produtos químicos não causam uma explosão como aquela. E, se fosse algo perigoso, seria necessário retirar a população da região, devido ao risco de maiores explosões posteriores ou de contaminação decorrente de algo, como radiação ou químicos”, diz o professor.

“A primeira coisa que se faz quando há algum acidente químico é retirar as pessoas e as pessoas continuam na região”, explica Rudzit. “Foi isso que ocorreu em Santos, no litoral paulista, em 2015, quando tanques de combustíveis pegaram fogo. Os bombeiros e a Defesa Civil isolaram toda a área na hora, devido aos riscos”, relembra o professor. No caso de Santos, as chamas duraram 9 dias.

O chefe de segurança interna do Líbano, Abbas Ibrahim, disse que a explosão, na região portuária do Líbano, aconteceu numa seção que armazena materiais que podem ser altamente explosivos, e não explosivos em si.

Em uma entrevista televisionada, ele não quis especular sobre a causa da explosão.

Instabilidade

O Líbano vive um período de instabilidade política. No fim do ano passado, o primeiro-ministro Saad Al-Hariri renunciou. O país viveu um período com um vácuo de poder, até que Hassan Diab assumiu e anunciou a formação de um novo governo em janeiro. O gabinete foi anunciado em meio a uma série de protestos que derrubaram.

Nesta sexta-feira (7), um tribunal apoiado pela ONU deve divulgar seu veredito no julgamento contra quatro homens acusados de terem participado do assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri em 2005, uma etapa fundamental em um longo processo no qual os suspeitos continuam em liberdade.

Grande explosão em área portuária em Beirute, no Líbano — Foto: GloboNews
Mapa identifica a região portuária de Beirute, onde aconteceu uma grande explosão nesta terça-feira (4) — Foto: G1

 

Banner825x120 Rodapé Matérias
Fonte globo
você pode gostar também
×